sábado, 22 de maio de 2010

Sobretudo


Hoje é sábado, dia da nossa coluna "Sobretudo", assinada pelo publicitário e rubro-negro Affonso Romero. O texto de hoje é especial: além de ser um depoimento absolutamente pessoal do autor, é uma linda história de amor.

Deleitem-se e se emocionem. Vale muito a pena.

Aproveito para parabenizar o casal pela formalização do enlace na data de hoje.

É o amor !!!

“...É o Amor
Que mexe com minha cabeça e me deixa assim
Que faz eu pensar em você e esquecer de mim
Que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver
É o Amor
Que veio como um tiro certo no meu coração
Que derrubou a base forte da minha paixão
E fez eu entender que a vida é nada sem você...”


Esses versos do Zezé di Camargo soam simplórios aos mais refinados. Uma música que fala tão diretamente de amor, que usa palavras e formas simples para descrever este sentimento, que é um declaração tão derramada, bem pouco elaborada, quase crua, talvez não tenha atributos para invadir o olimpo das clássicas canções da MPB, que abriga letristas que já trataram do mesmo tema com delicadeza, fina ironia, intensidade, riqueza, contraste e erudição.

Acontece que a música do Zezé (e do parceiro Carlos Cézar, sempre omitido, coitado) tornou-se um ícone da canção popular brasileira e, se não está em nenhum panteão, fixou-se no imaginário do País. Recebeu até um chamego da “self-called inteligentzia” nacional, ao ser regravada pela cotadíssima voz de Maria Bethânia.

Foi o irmão mais velho de Bethânia, Caetano, quem mais vezes resgatou canções do limbo brega - desde Odair José, passando por  Peninha e Marcio Greyck - e traduziu em sua voz a pureza e a simplicidade do amor cantado de forma crua e direta.

Mas foi uma composição própria de Caetano, Sampa, que ajudou a relativizar em mim os eventuais problemas das mudanças que temos que impor às nossas vidas quando queremos realmente buscar a felicidade. O meu problema é que a minha felicidade residia em São Paulo, e eu, no Rio. E hoje, mais de dois anos depois de eu ter superado estes 400Km que me distanciavam da grande metrópole bandeirante, eu devolvo ao Caetano e aos paulistanos o meu jeito de ter aceitado Sampa em forma de releitura:

“Alguma coisa acontece no meu coração
Que dá quando eu cruzo a Paulista com a Consolação
É que quando eu cheguei por aqui já eram outros tempos
São Paulo ditava ao Brasil a mudança dos ventos
E eu vim com a certeza de ter os mais doces momentos
Mas foste um difícil começo, fui pra frente aos tropeços
Apostando na felicidade
E, então, aprendi a chama-la de realidade
Porque és o acerto do acerto do acerto do acerto.”


E foi assim que eu coloquei as tralhas dentro do carro e cruzei a Dutra. Tantas pessoas têm um relacionamento real e buscam um amor de sonho. Eu tinha um relacionamento de sonho e buscava um amor real.

São Paulo, como é sabido, é uma cidade, a um só tempo, mais cosmopolita e mais caipira. Daí que é possível ouvir pelo ar tanto a última tendência das pistas de Ibiza quanto o “É o Amor”. E nem precisa ser a versão da Bethânia, aqui em Sampa se ouve com o Zezé di Camargo mesmo.

Eu conheci a Mara no ano em que “É o Amor” foi lançada e explodiu em sucesso nacional a partir das rádios paulistas. Nunca foi nossa trilha sonora particular, mas era impossível não ouvi-la em todos os lugares.

Teria sido mais simples e direto ter capitulado de vez ao amor que eu senti desde a primeira troca de olhares. Sim, existe amor à primeira vista. (Até então, eu não acreditava.) Nós não nos encontramos: nos reconhecemos. E ardemos numa paixão cuja chama era tão intensa que ofuscava qualquer resto de razão. E isso assusta. Mas se eu tivesse ouvido melhor a música do Zezé... afinal, o primeiro verso é:
“Eu não vou negar que...”

Pois é, eu neguei. E me dei mal. Depois do breve idílio, foram 14 anos sem nenhum contato. Durante este tempo todo, claro que a vida seguiu, às vezes com grandes alegrias, às vezes com dificuldades, mas mesmo nos melhores momentos havia uma sensação de que faltava algo, um querer-de-poço-sem-fundo, uma insatisfação latente. Eu sabia que a vida tinha um sabor a mais para eu provar que eu já havia sentido antes.

Mas depois de ter voltado para o Rio de Janeiro, parecia impossível retomar aquela história. E a vida seguiu na base de fazer do possível o ideal, como quase sempre acontece a quase todos.

Até que eu aprendi na pele o que chamam de mudança de paradigma. A reaproximação que parecia impossível devido à distãncia e ao tempo, tornou-se novamente viável. É que no tempo do “É o Amor” não havia internet. Passou a existir, não só a internet como principalmente o Orkut.

E assim, espantados, descobrimos que o que um sentia, o outro havia sentido sincronicamente, apesar de tempo e distância. E que, mais que lembranças, ainda havia paixão nos corações de ambos. E que o ‘É o Amor” ainda fazia sucesso.

A primeira troca de e-mails já deu sinais de que havíamos seguido em caminhos paralelos, um em cada calçada, em lados opostos da mesma avenida. O reencontro seria inevitável, e aconteceu numa cena cinematográfica, no saguão do Aeroporto de Congonhas, sob o olhar espantado de uma vaquinha colorida da Cow Parade.

Depois, a dificuldade de retomar uma relação que havia sido interrompida abruptamente, costurar de novo a confiança, fazer da paixão uma coisa sólida e concebível na vida de cada um. Superar os senões e, principalmente, os tais dos 400Km de Dutra. Até que a saudade foi mais forte que o juízo, e aqui estou eu há dois anos.

A história só não teve um final feliz exatamente porque não teve um final. É uma história feliz, continuamente feliz. É A história da minha vida, e ela continua acreditando que também é A história da vida dela.

Hoje, sábado, precisamente no momento em que o leitor estiver lendo este meu texto (por favor, contribua, leia às 10 da manhã), eu estou casando com a Sra. Mara Silva. Bem, já estávamos casados faz tempo. Mas estamos agora assinando uns papéis, tornando oficial nossa vontade de viver uma vida em comum até passar a saudade destes 14 anos longe um do outro. E, pelo jeito, uma vida vai ser pouco para nós.

Diz a piada popular que o segundo casamento é a vitória da esperança sobre a experiência. No nosso caso, é a vitória do amor sobre as circunstâncias. E a vitória do simples sobre todas as profundas considerações e ponderações que poderiam ser feitas, e que certamente nós fizemos. Até que um dia, eu coloquei tudo no carro e dei um salto no escuro. E o medo virou vontade, e as dúvidas viraram certeza. E hoje, amigo leitor, é o dia de celebrar esta história. Hoje é o dia de comemorar, porque é o dia mais feliz da minha vida.

E já que começamos a coluna com uma música romântica, permita-me concluir com uma mensagem bastante pessoal. Se você quiser, bravo leitor, tome emprestado também a letra abaixo e dedique-a a alguém especial. Se for alguém que realmente mereça, acredite, vale à pena até cantar no ouvido.

É só fazer, como nas melhores canções de amor, da maneira simples e direta. Diga bem baixinho no ouvido da pessoa amada:

Mara, esta é pra você (por favor, use outro nome, caro leitor). E cante desafinado mesmo:

“Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim.
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras que a minha saudade
Faz lembrar de tudo outra vez.
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.
Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes eu tenha vontade
Sem nada perder.
Você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o pior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.”

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