A partir de hoje, temos uma nova coluna no Ouro de Tolo. Como o próprio nome dela diz, não terá periodicidade definida, mas sempre que tiver textos novos será publicada aos domingos.
O autor é o advogado radicado em Porto Alegre Walter Monteiro, rubro-negro e diretor da torcida organizada Fla-Manguaça.
Nosso texto de estréia é sobre a sempre tumultuada relação existente entre a Seleção Brasileira e a imprensa esportiva.
"NÓS QUE ODIÁVAMOS TANTO A SELEÇÃO!
Quando eu era criança eu queria ser João Saldanha. Futebol era tudo para quem foi criado nas redondezas do Maracanã, com o luxo de um campinho de pelada improvisado no asfalto de uma rua sem saída. Meus coleguinhas sonhavam serem Zicos, Dinamites, Rivelinos, mas eu aprendi desde logo que a minha única chance de viver de futebol era virar João Saldanha, poder falar e escrever de futebol com sabedoria, mas sem a pretensão de transformar cada crônica em um pastiche de poesia.
Cresci e João Saldanha não virei, nem de futebol eu entendo, embora o idolatre e o respire intensamente. Aliás, eu raramente presto atenção a algum jogo, me limito a torcer freneticamente, expiando os pecados da alma e injetando adrenalina pelos berros primitivos ao meu entorno. Mas o “João Sem Medo” me inspirou, anos atrás, a sonhar com um projeto de livro, relatando o permanente clima de animosidade entre a imprensa esportiva e a seleção brasileiras.
Quem tem menos de 30 anos e é consumidor habitual das pílulas opinativas de nossa inteligentsia da imprensa deve apostar que a lendária seleção de 82 era recebida com loas de reverência pela crônica da época. Há um livrinho aí pelos sebos da vida onde o Saldanha dispensa à hoje mítica equipe um tratamento que nem os mais ferrenhos críticos da atualidade teriam coragem de reproduzir nesses tempos mais sensíveis.
Poupá-los-ei da extensa pesquisa que fiz do que se dizia daquele mágico time, mas um trechinho mínimo dá a dimensão do consenso da época. Fala, Saldanha:
“Tantos crimes contra o bom senso, contra o senso comum, não poderiam passar impunemente. O fato de possuirmos jogadores extra-série como Zico, Falcão, Sócrates, Júnior e Cerezo dava a falsa impressão de que éramos superiores em tudo. Mas uma estupidez siderúrgica rondava nosso propósito de ganhar uma Copa....Inventaram uma tática no Brasil abandonando preciosos espaços de campo. Ora, somente um primarismo infantil e teimoso poderia pensar que os adversários não iriam aproveitar o erro clamoroso...”
Nossa crônica esportiva nunca gostou da Seleção e vice-versa. Assim foi, assim sempre será. Há, claro, exceções. Em 2006 o time só não saiu daqui mais incensado porque nossos craques nem se deram ao trabalho de dar uma passadinha nessa terrinha tão longe da Europa. E há quem diga que em 1966, com Pelé, Tostão, Gerson, Garrincha, os entendidos da ocasião já haviam aberto o champanhe na véspera.
É por isso que o clima atual me anima. Afinal, tanto ódio e rancor contra a Seleção só vi em 1994, título que até hoje incomoda quem torceu contra. Vai pra cima deles, Brasil."
Quando eu era criança eu queria ser João Saldanha. Futebol era tudo para quem foi criado nas redondezas do Maracanã, com o luxo de um campinho de pelada improvisado no asfalto de uma rua sem saída. Meus coleguinhas sonhavam serem Zicos, Dinamites, Rivelinos, mas eu aprendi desde logo que a minha única chance de viver de futebol era virar João Saldanha, poder falar e escrever de futebol com sabedoria, mas sem a pretensão de transformar cada crônica em um pastiche de poesia.
Cresci e João Saldanha não virei, nem de futebol eu entendo, embora o idolatre e o respire intensamente. Aliás, eu raramente presto atenção a algum jogo, me limito a torcer freneticamente, expiando os pecados da alma e injetando adrenalina pelos berros primitivos ao meu entorno. Mas o “João Sem Medo” me inspirou, anos atrás, a sonhar com um projeto de livro, relatando o permanente clima de animosidade entre a imprensa esportiva e a seleção brasileiras.
Quem tem menos de 30 anos e é consumidor habitual das pílulas opinativas de nossa inteligentsia da imprensa deve apostar que a lendária seleção de 82 era recebida com loas de reverência pela crônica da época. Há um livrinho aí pelos sebos da vida onde o Saldanha dispensa à hoje mítica equipe um tratamento que nem os mais ferrenhos críticos da atualidade teriam coragem de reproduzir nesses tempos mais sensíveis.
Poupá-los-ei da extensa pesquisa que fiz do que se dizia daquele mágico time, mas um trechinho mínimo dá a dimensão do consenso da época. Fala, Saldanha:
“Tantos crimes contra o bom senso, contra o senso comum, não poderiam passar impunemente. O fato de possuirmos jogadores extra-série como Zico, Falcão, Sócrates, Júnior e Cerezo dava a falsa impressão de que éramos superiores em tudo. Mas uma estupidez siderúrgica rondava nosso propósito de ganhar uma Copa....Inventaram uma tática no Brasil abandonando preciosos espaços de campo. Ora, somente um primarismo infantil e teimoso poderia pensar que os adversários não iriam aproveitar o erro clamoroso...”
Nossa crônica esportiva nunca gostou da Seleção e vice-versa. Assim foi, assim sempre será. Há, claro, exceções. Em 2006 o time só não saiu daqui mais incensado porque nossos craques nem se deram ao trabalho de dar uma passadinha nessa terrinha tão longe da Europa. E há quem diga que em 1966, com Pelé, Tostão, Gerson, Garrincha, os entendidos da ocasião já haviam aberto o champanhe na véspera.
É por isso que o clima atual me anima. Afinal, tanto ódio e rancor contra a Seleção só vi em 1994, título que até hoje incomoda quem torceu contra. Vai pra cima deles, Brasil."
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