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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Whisky, televisão e carnaval


De volta, a coluna "Whisky, Televisão e Carnaval", assinada pelo médico, folião e diretor de escolas de samba Walkir Fernandes.

O texto deste domingo joga uma luz sobre algo muito badalado, mas pouco conhecido: as rainhas de bateria e seu processo de escolha.

"Elas não fazem parte de um quesito em avaliação, seus desempenhos nada ou muito pouco influenciam os jurados, mas recebem as maiores atenções da mídia e de boa parte do público. Em torno delas se acotovelam fotógrafos, cinegrafistas, câmeras e aduladores de “celebridades” em geral. Elas são as Rainhas de Bateria. 

Há controvérsias sobre quem teria sido a precursora. Falam na maravilhosa mulata Adele Fátima - conhecido por muitas como a mulata das 'Sardinhas 88', mas eternizada para os adolescentes de então como a Branca de Neve do filme “histórias que as nossas babás não contavam” - que teria vindo a frente da bateria da Mocidade Independente, lá pelos anos 70. Mas foi a mesma Mocidade que trouxe aquele que seria, no coração do público a primeira grande, transgressora e libidinosa rainha: Monique Evans, isso em 1985. 

De lá para cá o cargo ganhou status, atenção do público menos engajado no conteúdo do desfile e mais preocupado com o balançar de glúteos e silicones diversos; e principalmente adquiriu especial importância para a mídia de entretenimento e para patronos e presidentes de escola. 

E dá-lhe deusas, semi-deusas, tchutchucas e cachorras. O que antes funcionava como um elemento motivacional para os ritmistas, hoje se transformou num balcão de negócios; tão forte que já deu origem a variações em cima do mesmo tema: musas, madrinhas e princesas de bateria. 

Mas qual a importância dessas beldades para uma escola de samba? Atrai mídia e badalação para as agremiações, diriam os teóricos das escolas de samba. Menos como um elemento fomentador de cultura popular, e mais como um produto que é divulgado para mais de 100 países, que assistem os desfiles da Sapucaí e podem gerar grandes patrocínios. Alimentando a tese do “grande espetáculo teatral” . 

Para mim elas não tem a menor importância no contexto do desfile. Mas não é bem assim para as escolas e principalmente para as rainhas. Para elas, uma chance de ouro para se projetarem, e alavancarem suas carreiras. Seja rumo a uma ponta em alguma novela, seja rumo ao coração de algum “patrono “, empresário ou membro do deslumbrado Jet set nacional, e com certeza rumo às capas da Playboy...

E para isso não medem esforços, ou melhor não medem esforços por elas. E o que se vê são minúsculas fantasias, ricas em plumas, penas de faisão e cristais swarovski; que emolduram músculos hipertrofiados, para júbilo de esposos, namorados, amantes, padrinhos, tios (os que não medem esforços) e delírio do público em geral. 

Evidentemente, nada contra as Moniques, Brunets, Lumas e Pagungs da vez, todas divinas e maravilhosas. Mas irrita um pouco a badalação exagerada que as rainhas tem, sendo que na mais das vezes não há nenhuma identificação entre as monarcas em questão e seus súditos; muitas inclusive se comportando como aves de arribação e migrando de escola em escola. Tantas vezes em detrimento de belas meninas da comunidade, que frequentam suas agremiações o ano todo e de forma assídua. Poucas e louváveis exceções, como as lindas Raissa da Beija Flor e Bruna Bruno da União da Ilha, que fazem parte da comunidade de suas escolas de coração. 

E as escolas em que se beneficiam, perguntaria o leitor? Grana, troca de favores e outras milongas mais. Nada muito louvável, mas tudo parte da engrenagem que move o espetáculo.

Tem madrinha que banca  a roupa dos ritmistas, tem madrinha que ajuda escola mirim, tem madrinha que é amasiada com poderosos dos mais diversos calibres. Segundo se comenta, algumas escolas colocam seus tronos a venda por quantias que podem chegar, muito conservadoramente, a 60.000 reais.

Reportagem especial de uma conceituada revista semanal sobre o tema afirma que em 2010 tivemos pelo menos um caso de comprovada compra. Diz a referida matéria: “Rainha da Vila Isabel, Gracyanne lançou mão de uma moeda de troca: os shows do namorado, o cantor Belo. Em troca do posto da amada, o pagodeiro ofereceu à agremiação da Zona Norte 80% da arrecadação de duas apresentações feitas na quadra da escola”. 

Esses são os caminhos que nosso maior espetáculo (já nem tão) popular vem tomando: balcão de negócios. Pra virar Broadway falta pouco, pra virar SexHot, quase nada ..."

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Whisky, televisão e carnaval - IV



Rapidinho - daqui a pouco tem desfile do Acesso B - a quarta coluna da série assinada pelo médico e folião Walkir Fernandes.

Não vou ter tempo de escrever agora, mas deixo duas rápidas notas: meu desfile na Portela foi muito complicado e se não vencer a Unidos da Tijuca será caso de Polícia.

Vamos ao texto:

"Eis que chegamos a terceira noite de Sapucaí, segunda do Grupo Especial. Expectativa grande, depois do desfile xexelento de domingo, esperamos pela campeã.

Na telinha a Globo se superou: o que já era chato se tornou francamente irritante, muito falatório, o tal do botequim do samba fazendo inserções cada vez maiores no antes e até no durante os desfiles com o Chico Pinheiro matraqueando e macaqueando sem parar; e o Geraldinho Carneiro achando que estava fazendo poesia, quando o máximo que conseguia era fazer uns trocadilhos canhestros sobre pororocas e pererecas.

Porém o mais grave estava por vir: durante o desfile da Grande Rio com seu enredo sobre o Camarote nº 1, da Brahma: a Globo, cujo carnaval teve como principal patrocinador a Schin, simplesmente CENSUROU a apresentação da escola. 

Uma censura comercial que se refletiu numa péssima cobertura, onde a letra não foi exibida, o áudio do Wantuir, intérprete da escola, que não foi focalizado uma única vez era simplesmente tirado do ar quando chegava no refrão, que fazia menção ao referido camarote da Brahma. Sem contar com 3 inserções no meio do desfile para entrevistar o Martinho da Vila e duas vezes e a Gracyanne, rainha de bateria da Vila. Desfile em que a Comissão de Frente foi mostrada rapidamente e a alegoria que representava o Camarote não foi mostrado; enfim ridículo e lamentável.

Lamentável também foi ver o que foi feito da Portela, desfile tosco, confuso, plasticamente feio. Salvou-se como sempre o chão da escola, que merecia mais respeito de sua diretoria. Um desfile negativo para a Nação Portelense.

Mocidade bem animada, plasticamente irregular. Porto da Pedra com boas sacadas, mas com samba fraco, apesar do ótimo puxador. Vila bem legal, com uma grande harmonia, grande samba, grande comissão de frente, mas com alegorias fracas, tá na briga, como também está a Grande Rio, num desfile maduro do seu carnavalesco - que sempre promete e pouco cumpre em matéria de talento, mas acertou esse ano. Mangueira feliz com seu excelente samba, desfilou bem, e só.

Aguardemos o parecer dos jurados, mas pra mim, dá Tijuca."

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Whisky, televisão e carnaval - III


Na nossa programação especial de carnaval, a terceira coluna da série, escrita pelo médico, compositor e folião Walkir Fernandes:

"Pronto, taí o q a gente queria, samba rolando no Grupo Especial. Vamos a algumas considerações e destaques observados pela telinha, rolando a pelota para o Titular da Pasta, q deverá fazer seus relatos, escola por escola, com a pertinência de quem estava de frente pro crime.

Vamos as considerações desse telespectador:

1. Transmissão da Globo: menos chata q em anos passados, mas ainda com muito a melhorar. Luiz Roberto no lugar de Kleber Machado e Pedro Luis em substituição a Dudu Nobre foram os maiores acertos. O histrionismo fantasiado de descontração do Chico Pinheiro e a orientação da emissora para o "tudo é divino  e maravilhoso" as bolas foras.

2. Oh, a União voltou, a União voltou !!! Fantástico. Porém mais do que isso, poderíamos cantar: Oh, A Rosa Magalhães voltou, a Rosa Magalhães voltou !!! E voltou afiada e criativa como nos velhos tempos. Plasticamente, para mim, foi o melhor desfile que a União fez em toda a sua história, perdendo de pouco para Domingo, Festa Profana e Maria Clara Machado em termos de emoção e animação.

3. Destaque absoluto para o carro do Teatro de Bonecos da Ilha. Lúdico, carnavalesco e riquíssimo em detalhes e bom gosto. Mostrando que a carnavalesca captou muito bem o espírito da escola. Alegoria com a cara da União da Ilha.

4. O Max velho de guerra de sempre !!! Competente, caprichoso e previsível. Mesmo assim o melhor desfile da Imperatriz em anos. Mais do mesmo, mas tudo muito bonito.

5. Faço minhas as palavras de Renato Lage: "o Paulo Barros pegou na veia". E colocou no fundo das redes !!! Gol de placa ! Se o campeão sair de domingo será a Tijuca. Um ou outro excesso, mas com algumas sacadas que valeram o ingresso. A Comissão de Frente, os carros da Biblioteca de Alexandria e dos Jardins Suspensos da Babilônia entram para os anais do Carnaval Carioca.

6. Pena que o pavão, símbolo da Unidos da Tijuca, tenha sido um dos mais feios já apresentados na avenida. A ponto de me fazer pensar se algo não funcionou na hora, luz, coreografia, alguma coisa... sei lá...

7. Viradouro plasticamente muito ruim. O carro de som para minha surpresa sustentou bem o samba, do qual eu não gostava, mas que não se saiu mal. E as baianas representando a Virgem de Guadalupe estavam lindíssimas. Alegorias nível Lesga.

8. Salgueiro desperdiçou um enredaço !!! Trabalho preguiçoso do ótimo Renato Lage. A impressão que dá é que o Renato não veio com tudo; acho que depois do resultado de Candaces ele só vai na boa... Ele pode e sabe mais do que aquilo que minha escola apresentou. Mas com alguns bons momentos, fantasias contando bem o enredo. O abre alas ao invés de ser impactante como se espera, foi um balde de água fria. E o pior de tudo: faltou vermelho no Salgueiro !!!

9. Beija parecia aquela mulher linda de viver, educada, culta e boazinha, mas sem o menor charme, fala aos olhos, mas sem dar tesão... O de sempre, com o agravante do péssimo enredo, oportunista e rocambolesco. Me lembrou quando Joãozinho 30 colocou as Minas de Ouro do Rei Salomão na Amazônia...

10. De resto a frieza da avenida, coalhada de turistas das mais diversas procedências, que não cantam e pouco vibram. Hoje em dia parece quase impossível levantar a Sapucaí no desfile do Grupo Especial."

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Whisky, televisão e carnaval - II


Rapidinho, que daqui a pouco tem Sapucaí, a segunda coluna assinada pelo compositor e folião Walkir Fernandes, sobre a cobertura televisiva.

A propósito, a foto é da Renascer de Jacarepaguá. Reparem no detalhe de máscara carnavalesca na arraia.

"Pronto, começou o desfile da Lesga !!!

Não sei se foi a transmissão equivocada da Band ou minha pouca experiência em assistir desfiles pela tv, mas a impressão que tive foi de  que o desfile de sábado se transformou num espetáculo tedioso. Nenhuma ousadia estética, nenhum enredo perturbador, nem mesmo um fracasso retumbante...tudo muito nivelado e tudo meio dejà vú...

Já não tenho mais saco para os chamados "temas", aqueles q ao invés de contar um enredo com princípio, meio e fim exploram todas as possibilidades, conotativas e denotativas, do tema escolhido. E aí dá-lhe faraós egípcios, colunas gregas, cavalos de diferentes procedências e toda sorte de asiáticos: árabes, chineses, japoneses e que tais...enfim uma volta ao mundo, tão inócua quanto repetitiva... Foi um porre, e olha que eu peguei leve: só 3 doses de whisky.

A transmissão da Band foi fraca, Miro Ribeiro, de quem esperava mais, demonstrou ser apenas um Haroldo Costa sem conteúdo - para ele tudo é lindo - mas escorregou diversas vezes nas informações técnicas... Adriane Galisteu é risível, se importava somente em reparar nas musas, madrinhas, rainhas e p...diversas, e se essas estavam ou não usando meia calça ou se a bunda não era furada; ou seja, tremenda furada... Teve também o Ivo Meirelles, mas esse é desnecessário comentar...

Padre Miguel foi vista através de um compacto de exatos 2 minutos e me pareceu interessante. O desfile do Império Serrano foi totalmente desperdiçado por uma equipe de transmissão começando os trabalhos e batendo cabeça, com todos falando sem parar, e a escola sendo mostrada sem nenhum compromisso com a ordem de desfile... Mas a escola me pareceu ok, com destaque para um carro que mostrava o antigo Mercado Municipal, onde funciona o restaurante Albamar... A bateria deve ter tido como sempre bom desempenho, mas o matraquear dos apresentadores não me deixou ouvir direito...

À partir de terceira escola, a transmissão se tornou menos angustiante, pelo menos passamos a escutar o canto das escolas...

O Império da Tijuca trovejou mas não choveu: após um início impactante descambou para o lugar comum de outras tantas Áfricas já vistas, apenas com menos palha... escola pequena, de evolução lenta... Tuiuti foi outra com teve bom começo ao apostar na simbologia colombina/rosa, arlequim/amarelo e pierrot/azul e usar tons pastéis nas fantasias e nas alegorias; acertou em cheio, dando leveza ao seu desfile... Mas não sustentou bem o canto e menos ainda o encanto inicial...

Inocentes não apresentou nada demais, porém bem mais do que eu esperava, com desenvolvimento do enredo de fácil compreensão; mas o samba é dose e a escola passou morna, com pelo menos uma cena tão bizarra quanto emblemática: em pleno refrão do samba, sua rainha, madrinha, sei lá, dançando funk para as câmeras, dando uma abaixadinha, com a mãozinha nas coxas... Bem mais pra cachorra que para tchutchuca...

Renascer para mim fez o melhor desfile da noite, com alguns lapsos de criatividade na mesmice generalizada, o que obviamente não inclui a horrenda comissão de frente; que contradiz todas as já muito deturpadas funções dessa ala.

Caprichosos fez a alegria da galera, a meu ver unicamente pelo seu samba, que deve ter sido muito bom cantar na avenida. Visto de casa, onde o que prevalece é a questão plástica, se mostrou inferior até mesmo ao desfile de 1985... golpe de mestre de seus dirigentes, que empanaram um carnaval fraco com um samba pra levantar a avenida.

São Clemente e Santa Cruz desfilaram tecnicamente muito bem, mas sem emoção e sem nada a se destacar...

E mais não tenho a relatar, a luz acabou ao iniciar a Rocinha e só voltou as 9 da manhã. Nada do sono vir, nada de gelo pro whisky e a expectativa de assistir as sempre interessantes Estácio, Rocinha e Cubango frustrada...

Termino colocando no ar uma pergunta: ao formarem a Lesga, essas escolas se organizaram aparentemente melhor, conseguindo maiores subsídios da Prefeitura, maiores cotas de televisionamento e aumentaram o preços dos ingressos de forma acintosa. Porque então isso não se reflete no que se vê no desfile ?? muito enredo repetitivo, muita reciclagem e pouco espetáculo de qualidade ???"

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Whisky, televisão e carnaval - I


Teremos uma coluna específica nesta cobertura especial de carnaval.

O médico Walkir Fernandes, compositor, ex-diretor de diversas escolas e com quase trinta e cinco anos de avenida estará assinando uma coluna nestes quatro dias sob um ângulo diferente: o de quem assiste à festa pela televisão. Teremos análises dos desfiles e da cobertura propriamente dita da festa pela telinha mágica.

Por estar vetado pelo departamento médico - nada sério, felizmente - este ano está restrito ao sofá de casa. Na foto, de 2008, ele está de boné ao meu lado. Vamos ao primeiro texto da série:

Vai começar tudo de novo, canta meu povo

"lá vou, lá vou, hoje a festa é na avenida..."

Vou nada, hoje e nos demais dias do Carnaval minha festa será na sala de casa...vou tirar o tapete da sala, como mandava nos anos 70 o grande Marcos Moran, ligar o split instalado especialmente para o evento, colocar 3 pedrinhas de gelo no scotch e varar a noite na frente da telinha - coisa q não faço, em tempo real, há mais de 30 anos...

Assistir os desfiles de escola de samba pela tv, ao vivo, será como reaprender a olhar a mais bela festa popular de nossa cidade. Não serão meus olhos, que tudo contemplam, que espiam cada detalhe, que se embevecem com as filigranas e as minúcias...

Vou assistir o que a televisão quiser me mostrar...aquele show de bunda e mulher gostosa, em detrimento da passista de sambar inebriante...o carro alegórico rico em detalhes mostrado de soslaio... Nada contra as gostosas e seus fartos silicones, fazem parte da beleza da festa também, mas vou ter que me encher de paciência e de algum destilado para poder enfrentar essa maratona no sofá...

Esse ano teremos algumas novidades, que geram alguma expectativa positiva: o desfile de sábado da Lesga será transmitido pela Band e não mais pela CNT; não teremos mais a voz de Jorge Perlingeiro, bravo torcedor do glorioso América FC, e seu show de merchandising. Mesmo a Globo anuncia a troca de sua dupla de locutores... vamos ver no que dá...

Estarei por aqui, a convite do titular do blog, dando minhas impressões domésticas sobre esse espetáculo maravilhoso.

Por falar em desfiles, ontem tentei assistir o desfile de Sampa. Não deu, começou com a Imperador do Ipiranga, brava escola que teve dificuldades de colocar seu carnaval na rua devido a chuva que vem castigando a maior cidade do país. Desfile muito chato, embalado por um samba mais chato ainda, que nem a interpretação de meu amigo Moisés Santiago conseguiu salvar...e aí não teve jeito: Morfeu me aplicou um ippon, e quando dei por mim, a VaiVai, última escola da noite, já tinha ido ido...

Abraços a todos"