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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sabinadas - "Esquentando os Tamborins"


Nesta quinta feira, a coluna “Sabinadas”, do jornalista Fred Sabino, toca em um ponto importante: a perda de importância dos sambas de enredo e a respectiva queda na vendagem do cd.

Esquentando os Tamborins

Estamos chegando ao fim do ano e esquentando os tamborins para mais um Carnaval que se avizinha. E, mesmo com um começo de resgate da qualidade do gênero samba-enredo nos últimos anos, com grande contribuição das tradicionais Portela (principalmente), Vila Isabel, Império Serrano e Mangueira, ainda falta muito para que se chegue ao patamar do que, um dia, já foi fenômeno de vendas.

Quando comecei a acompanhar as escolas de samba, ainda criança, o ‘bolachão’ com os sambas-enredo era aguardado ansiosamente. As rádios cariocas executavam seguidamente as obras e os cantores, amplamente identificados com as agremiações, eram vozes que chegavam não só ao ouvido, mas ao coração dos apaixonados pelo Carnaval.

Afinal, com uma ou outra troca eventual, era de lei escutar os brilhantes Jamelão na Mangueira, Neguinho na Beija-Flor, Ney Vianna na Mocidade, Aroldo Melodia na União da Ilha, Rico Medeiros no Salgueiro, Silvinho na Portela, entre outros... Havia uma identidade auditiva quase imediata.

E as obras não eram feitas a priori para servirem meramente como trilha sonora para um desfile e arrancar uma nota 10 do jurado. Mais do que isso: eram feitas para cativar o componente e o público antes, durante e depois do desfile.

Houve até casos extremos como o da Portela, em 1981 (Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite, que será reeditado em 2013 pela Tradição), quando o samba gerou tanta empolgação antes mesmo do desfile, que o público invadiu a pista e atrapalhou a evolução da escola. A Portela acabou apenas com a terceira colocação naquele ano.

[N.do.E.: parte deste resultado deve ser creditado ao hoje presidente da Tradição Nésio Nascimento, que na ocasião grampeou errado o caderno com o roteiro de desfile. Resultado: alas entraram em ordem trocada e a escola foi penalizada.]

Meu grande amigo Carlos Alberto Vieira, imperiano de quatro costados, sempre me contou que em 1982 (acima), antes mesmo de o Império Serrano entrar na avenida, os versos de "Bum Bum Paticumbum Prugurundum" eram entoados a plenos pulmões pela arquibancada, tamanha a beleza e explosão do samba de Beto Sem Braço - executado incontáveis vezes na fase pré-carnavalesca.

Em 1989 eu já começava a entender as coisas e lembro que de imediato fiquei apaixonado pelo extraordinário refrão "Liberdade, Liberdade!/Abre as asas sobre nós/E que a voz da igualdade/Seja sempre a nossa voz". Naquele ano foram vendidos simplesmente 1 milhão de discos. Um número impressionante.

Outros sambas muito cantados antes do desfile simplesmente não "aconteceram" na avenida. Talvez o exemplo mais evidente seja o da Mangueira, em 1994 (Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu). Mas até hoje quem não se lembra desse samba empolgante, que mexe com a alma do sambista?

Não, leitores, não é simplesmente uma coluna saudosista, mas que apenas constata como as coisas mudaram. Como já escrevi, o foco de boa parte dos autores (e das escolas) passou a ser apenas a bendita funcionalidade do samba. Também não quero entrar aqui no assunto "escritórios", já amplamente debatido. Mas é fato que a mercantilização das escolas, tal como no futebol, é um fator determinante para essa queda de vendas do CD de sambas-enredo - sinceramente nem sei quanto vendeu o de 2012, que teve uma safra boa, aliás.

Outro problema é a divulgação insuficiente na TV. Antes havia duas emissoras transmitindo os desfiles e ambas executavam os sambas por várias vezes durante a programação e com a passada completa.

Hoje, apenas quarenta segundos são exibidos pela detentora exclusiva dos direitos. Uma evolução nos últimos anos foi a exibição de um programa especial com todos os sambas gravados ao vivo num auditório. Sem dúvida elogiável, mas a passada inteira do samba sistematicamente exibida seria, de fato, o ideal.

[N.do.E.: contribui para isso a falta de uma estrutura de marketing por parte da Liesa e o fato de, hoje, os CDs serem lançados por uma gravadora própria.]

Mais um aspecto negativo é o nivelamento adotado pelos jurados. Por mais que em 2012 os melhores sambas tenham tido as melhores notas, a diferença de pontuação entre o melhor e o pior samba ainda é abaixo do que deveria ser.

No meu mundo ideal, samba e bateria teriam pontuação dobrada, pois assim obras como a da Portela no último desfile ou as baterias da Mangueira e Imperatriz nos últimos anos fariam a diferença num julgamento que ainda privilegia muito os aspectos estéticos. Afinal, é ou não um desfile de escola de SAMBA? Com um julgamento mais rigoroso dos sambas medianos, automaticamente a busca por qualidade melódica e de letra seria maior.

De qualquer forma, como já debatemos aqui neste Ouro de Tolo, ainda bem que está havendo um processo de recuperação da qualidade dos sambas. Imperatriz (2010 e 2011), Mangueira (2011 e 2012), Portela (2012 e 2013) e Vila Isabel (2010, 2012 e 2013) produziram recentemente obras de agrado incontestável.

Tomara que todas as escolas continuem escolhendo obras de boa qualidade, que haja uma melhor divulgação em rádios e TV e os sambas bons de verdade sejam valorizados nas apurações.

Quem sabe, num futuro próximo, voltemos a viver aquela expectativa incontida e saudabilíssima pelos sambas de todas as escolas e que as obras sejam cantadas para sempre.
 
(Foto: Extra)

sábado, 24 de novembro de 2012

Uma sugestão às escolas de samba


Na última quinta feira o jornal O Dia publicou artigo de minha autoria com algumas sugestões para melhorar a gestão de nossas escolas de samba. O texto é baseado em um post deste blog ainda de 2011, e devido às limitações de espaço do jornal está bastante condensado.

Entretanto, ainda este ano irei escrever aqui post desenvolvendo as questões abordadas abaixo na reprodução do artigo publicado.

Até para que não se repita o quadro da foto acima - do site SRZD Carnaval - com o quarto andar do barracão da Portela na Cidade do Samba. A imagem é do início desta semana, acredite o leitor.


Uma sugestão às escolas de samba

O noticiário carnavalesco dos últimos dias vem enfocando bastante a gestão das escolas e a demanda por mais recursos. O objetivo deste artigo é sugerir um conjunto de medidas a fim de se iniciar um modelo de gestão profissional por parte de nossas agremiações.

Dividiria as ações em três grupos: gestão profissional, governança corporativa e a gestão de marca e de novas receitas. Iniciando, a gestão profissional. Sabe-se que há ineficiência no uso de recursos. Isto ocorre por não haver modelo de gestão estruturado.

Detalhada proposta orçamentária é fundamental. Elaborada com antecedência, permite atração de bons profissionais, compra antecipada de materiais e execução do enredo segundo cronograma. Somente esta medida já permite economia que estimo em 20% do total.

Segundo: o que se chama “modelo de governança”. Isso significa a instituição de regras internas que visem à uniformização do uso de recursos, o processo de contratação de bens e serviços e a existência de controles internos automatizados na gestão. Além disso, instituir e acompanhar metas e indicadores objetivos tanto de gestão, como de processo e de desempenho são outra parte fundamental de melhoria.

Necessário também formalizar (na medida do possível) as relações trabalhistas e estabelecer um “Plano de Carreira”, com metas e incentivos. Instituir um sistema de consequências para os gestores profissionalizados, bem como padrões de procedimentos.

Uma boa gestão é marcada pela transparência, ainda mais quando há a busca por novas fontes de recursos e gestão de marca. Prestar contas de ações empreendidas e resultados financeiros ao público, ainda que de forma resumida, seria um bom começo.

O leitor deve estar se perguntando: de onde a escola vai tirar dinheiro para iniciar tão antecipadamente (antes mesmo do carnaval anterior) a preparação do desfile?

Através de contratos de vestuário (à moda dos clubes de futebol), licenciamento de diversos produtos com a marca da escola, maior rentabilização da quadra de ensaios e dos contratos de cervejarias. Estas são novas fontes de recursos que dispensariam o patrocínio ao enredo e trariam um fluxo de receitas por todo o ano.

Projeto de sócio torcedor, a R$ 10 mensais e envolvendo direito (mesmo que limitado) de voto, também possibilita afluxo de recursos considerável: 5 mil sócios representam R$ 600 mil anuais.

Obviamente estas linhas são um grande resumo, que precisa ser aprofundado.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Made in USA: "Sambas vs Sinopses – Parte II"


Nesta terça feira, o colunista Rafael Rafic em sua "Made in USA" conclui a análise comparativa entre as sinopses e os sambas das escolas do Grupo Especial para 2013.

Sambas vs Sinopses – Parte II

Continuemos a análise com as escolas que desfilam na segunda feira.

Segunda-feira

1 - São Clemente

Enredo: Horário Nobre
Texto: Milton Cunha
Carnavalesco: Fabio Ricardo
Nota da Sinopse: 8,5
Autores do samba-enredo: Gabriel Mansilha, Nelson Amatuzzi Victor Alves, Floriano do Caranguejo, Beto Savana, Guguinha e Fabio Portugal

Com um ótimo tema e boa sinopse (porém um tanto quanto confusa e esparsa), a São Clemente foi a única escola que optou por uma fusão para 2013. Foi uma fusão clássica: 1 refrão e 1 estrofe de um samba colado com 1 refrão e 1 estrofe de outro – e alterada após a disputa.

O samba é de mediano para bom, não tendo grandes passagens. Tem apenas um refrão final que pega, mesmo não sendo uma maravilha poética nem melódica. É um samba que luta para completar a primeira metade do Grupo, enquanto a sinopse é claramente a quarta melhor do grupo.

Talvez tenha faltado um grande samba. Isso pode ter ocorrido devido à forma confusa com que as idéias foram lançadas na sinopse; ou talvez pela porcentagem absurda que a São Clemente exige dos direitos autorais dos compositores (na ordem de 60%). Mas o fato é que apesar do samba interessante não houve na safra um samba que ombreasse a nota alta obtida pela sinopse.

Resultado: samba mediano inferior a sinopse boa.

2 - Mangueira

Enredo: Cuiabá: Um Paraíso no Centro da América
Texto: Marcos Roza e Cid Carvalho
Carnavalesco: Cid Carvalho
Nota da Sinopse: 4,5
Autores do samba-enredo: Lequinho, Jr. Fionda, Igor Leal e Paulinho Carvalho

A sinopse mangueirense, não bastasse ser a típica sinopse CEP (louvando um lugar do Brasil), ainda foi pessimamente estruturada.

Porém, a tradicional parceria multicampeã mangueirense capitaneada pelo Lequinho, salvou a Mangueira. Típico caso que o talento do compositor tira samba de onde não tem na sinopse.

É um samba com a cara da Mangueira (cara essa que alguns queriam dar a Portela esse ano também... sorte que não foram bem sucedidos) que fica tranquilamente na primeira metade do grupo em 2013.

Não é por acaso que o samba praticamente não fala da sinopse, porque se começasse a falar demais fatalmente ficaria ruim.

Resultado: samba bom bastante superior a sinopse ruim.

3 – Beija-Flor

Enredo: “Amigo Fiel”
Texto: Laila, Fran Sergio, Ubiratan Silva, Victor Santos, André Cezari e Bianca Behrends.
Carnavalescos: Laíla, Fran Sergio, Ubiratan Silva, Victor Santos e André Cezari
Nota da Sinopse: 4
Autores do samba-enredo: J Veloso, Ribeirinho, Marquinho Beija-Flor, Gilberto, Silvio Romai e Dilson Marimba

Enredo complicado e falho da Beija-Flor. Ganhou um samba normal que, se não faz parte da primeira metade do grupo para 2013, é melhor do que a sinopse e a trata com certa beleza poética em letra bastante interessante. Afinal essa era a única forma de fazer um samba competitivo na Beija-Flor, abordando o tema, mas sem ser o “pão, pão, queijo, queijo” que mataria o samba.

Resultado: samba razoável, ligeiramente melhor do que sinopse ruim. Possível interferência negativa da sinopse.

4 – Grande Rio

Enredo: “Amo o Rio e vou à luta: ouro negro sem disputa”… “Contra a injustiça em defesa do Rio”
Texto: Roberto Szaniecki
Carnavalesco: Roberto Szaniecki
Nota da Sinopse: 1
Autores do samba-enredo: Mingau, Deré, Junior Fragga, Mingauzinho e Arlindo Neto

Da sinopse ruim, muito ruim, longa, insossa, longa, chata, doente e quase morta, saiu um samba até aceitável.

Não é um grande samba e provavelmente fica no terço final do Especial de 2013, mas é digno de Especial, tem um refrão final interessante (alias, também se utiliza de três refrões) e é um samba até certa medida legal de se cantar.

Para o desastre que foi a sinopse (tendo comentários inclusive que minha nota 1 foi boazinha, porque o certo seria o 0) esse samba, mesmo nem sendo mediano está acima de qualquer expectativa.

Resultado: samba de ruim para mediano infinitamente superior a um enredo absolutamente desastroso. Culpa total da sinopse.

5 – Imperatriz

Enredo: Pará – O Muraiquitã do Brasil
Texto: Cahê Rodrigues e Leandro Vieira
Carnavalesco: Cahê Rodrigues, Mario Monteiro e Kaká Monteiro
Nota da Sinopse: 6

Autores do samba-enredo: Me Leva, Gil Branco, Tião Pinheiro, Drummond e Maninho do Ponto

A Imperatriz trouxe uma sinopse mediana ao estilo CEP. Mas a ala de compositores da Imperatriz é sensacional e faz limonada de qualquer limão.

Mais uma vez tivemos uma disputa bastante acirrada, com 4 ou 5 sambas muito bons. A escolha foi um pouco contestada, mas qualquer escolha seria tendo em vista a quantidade de sambas bons na safra (mais uma vez em Ramos).

O samba da minha preferência (e de muitos outros), um samba ousado do incansável Zé Katimba, caiu ainda na semifinal. Porém os quatro sambas finalistas também tinham apoios consideráveis e chegaram justamente à final.

Dos finalistas, ganhou o meu preferido. É um ótimo samba. Não sei se dá para classificá-lo como o terceiro melhor do ano (atrás de Portela e Vila Isabel), mas com certeza está no terço inicial do Especial.

Resultado: bom samba, superior à sinopse mediana. Influência da qualidade dos compositores.

6 – Vila Isabel

Enredo: A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo – “Água no feijão que chegou mais um”
Texto: Rosa Magalhães, Alex Varela e Martinho da Vila
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Nota da Sinopse: 9,5
Autores do samba-enredo: André Diniz, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Tunico da Vila e Leonel.

Na Vila quando se junta André Diniz, Martinho e Arlindo (já apelidados de “Galácticos da Vila”) não se tem uma competição de samba-enredo: é praticamente um samba encomendado que já se sabe que irá ganhar.

A sinopse é muito boa e foi a surpresa agradável dessa safra. O samba que o representa não fica devendo nada à sinopse. Um samba de altíssima qualidade, que disputaria com a Portela o título de samba-enredo do ano.

Mas não é esse samba que todos andam falando. Para mim inclusive é inferior ao samba da Vila Isabel de 2012, sobre Angola (de André Diniz e Arlindo Cruz), e não teria toda essa repercussão se fosse assinado por Pedro Migão e Rafael Rafic. Mas é uma grande composição, sem dúvidas.

Por fim quero registrar uma incoerência de opiniões influentes do carnaval.

Várias pessoas que incensam o samba da Vila e proliferam aos quatro cantos que esse samba levará a Vila ao título (o que não duvido, ela é a favorita do momento), são as mesmas que defendiam na Portela o samba de Neyzinho. O argumento apresentado é que pela posição de desfile da Portela, última de domingo, ela precisaria de um samba mais “para cima” a fim não deixar o povo cair.

Mas será que essas pessoas não percebem que a Vila ocupa a mesma posição, até pior, já que a Vila encerra o último dia? E será que elas também não percebem que o samba do André Diniz & Cia é até mais cadenciado e “para baixo” do que o próprio samba da Portela?

Então porque para uma o samba cai como uma luva e para a outra não caia?

Alias, se guiando por esse argumento usado em Madureira, o samba escolhido na terra de Noel nem deveria ser esse, já que existiam outros dois sambas “mais para cima” do que o escolhido em Vila Isabel.

Resultado: samba ligeiramente melhor que a sinopse, ambos de altíssima qualidade.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Made in USA: "Sambas vs Sinopses – Parte I"



Nesta segunda feira de uma semana que é bem curta para muita gente – embora para mim não seja – o colunista Rafael Rafic em sua “Made in USA” traça uma comparação entre as sinopses das escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro e os sambas resultantes.

A coluna será apresentada em duas partes: hoje as agremiações que desfilam no domingo e, amanhã, as de segunda feira.

Sambas vs Sinopses – Parte I

Depois de analisar e dar notas as sinopses de enredo do Grupo Especial, o que é incomum no mundo carnavalesco, quero propor aqui no Ouro de Tolo outra análise incomum.

Analisarei os sambas-enredos escolhidos pelas Escolas do Grupo Especial. Mas não quero analisar os sambas-enredo por eles próprios, simplesmente lhes dando notas ou ranqueando-os. Esse tipo de análise teremos aos montes assim que o CD sair, em dezembro.

Quero, aproveitando a análise dos enredos que fiz aqui em julho, comparar a avaliação de qualidade do samba-enredo escolhido pela escola em relação à sinopse da mesma. O intuito é ver o quanto a qualidade da sinopse influenciou (ou não) o samba-enredo.

Mais uma vez, a análise será feita pela ordem de desfile. Começaremos hoje com as escolas de domingo. Amanhã, as de segunda feira.

Domingo

1 – Inocentes:

Enredo: As Sete Confluências do Rio Han.
Autores da Sinopse: Roberta Alencastro Guimarães e Wagner Gonçalves
Carnavalesco: Wagner Gonçalves
Nota dada à sinopse na avaliação de julho: 2
Autores do samba-enredo: Billy Conti, Dominguinhos, Ildo dos Santos, Juarez Rosseto, Mará, J.J. Santos e Miri Matéria

A Inocentes vem com um enredo difícil de explicar sobre a história, cultura e imigração coreanas; todas as três desconhecidas no Brasil. Não bastasse, o enredo foi mal elaborado. Porém, mesmo o samba-enredo não sendo um grande samba, ficando no terço final da safra 2013, é apresentável para grupo especial.

Aqui temos o primeiro exemplo do ano no qual os compositores tiraram leite de pedra. Vocês verão que tivemos outros vários, reforçando a tese da “ressurreição” do gênero samba-enredo, já comentada aqui no Ouro de Tolo.

Resultado: samba consideravelmente acima do enredo. Mas ainda sim ambos na segunda metade do Grupo Especial. Influência negativa da sinopse..

2 – Salgueiro

Enredo: “Fama”
Texto: Renato Lage e Márcia Lage
Carnavalescos: Renato Lage e Márcia Lage
Nota da sinopse: 3,5
Autores do samba-enredo: Marcelo Motta, João Ferreira, GE Lopes e Thiago Daniel

Sinopse complicada, polêmica e, em minha análise, ruim. Isso se refletiu na safra medíocre que tivemos no Salgueiro esse ano. Ao final ganhou o único samba digno de Grupo Especial. Ainda sim é um samba para ficar tranquilamente na segunda metade do grupo e, claro, como eu já adivinhara é um autêntico pula-pula.

Resultado: samba ligeiramente melhor que a sinopse, ambos na segunda metade do grupo. Influência negativa clara da sinopse.

3 – Unidos da Tijuca

Enredo: Desceu num raio, é trovoada! O Deus Thor pede passagem para mostrar nessa viagem a Alemanha encantada
Texto: Isabel Azevedo, Simone Martins, Ana Paula Trindade e Paulo Barros
Carnavalesco: Paulo Barros

Nota da sinopse: 6,5

Autores do samba-enredo: Julio Alves, Totonho, Dudu e Elson Ramires

A sinopse é correta, mas sem grandes destaques. Mediana e, pareceu-me, sem o toque especial de Paulo Barros. A safra tijucana foi sofrível, mas um samba se salvou: justamente o campeão. Como cada escola só precisa de um samba por ano, tudo bem.

O samba é mediano, com uma segunda parte até bem ruim (como sempre é difícil fazer letra para enredo de Paulo Barros). Mas teve uma sacada genial no refrão (“metade do meu coração é Tijuca/ A outra metade Tijuca também”) que o faz disputar posições medianas no Grupo.

Resultado: samba acompanhou par e passo a qualidade da sinopse, ambas medianas.

4 - União da Ilha do Governador

Enredo: “Vinícius no Plural: Paixão, Poesia e Carnaval”
Texto: Alex de Souza
Carnavalesco: Alex de Souza
Nota da Sinopse: 10
Autores do samba-enredo: Ginho, Junior, Vinicius do Cavaco, Eduardo Conti, Professor Hugo e Jair Turra

Aqui, tivemos uma inovação brilhante e uma aula de como se fazer uma sinopse, dada pelo carnavalesco Alex de Souza. Porém, para variar, a Ilha pegou a sinopse, amassou, fez bolinha de papel dela e a usou como bola de basquete para um arremesso certeiro de 3 pontos - direto para a lata do lixo.

O problema aqui é muito mais complicado do que uma simples análise “sinopse x samba-enredo”.

Para começar, a ala de compositores insulana está muito maltratada há anos por sua diretoria, o que fez com que sumissem vários talentos dela. Assim, a qualidade dos sambas vem caindo e não é de hoje.

A isso credito o fato de não surgir aqui um samba fantástico em toda a safra, diferentemente das outras duas escolas que ganharam excelente avaliação de suas sinopses: Portela e Vila Isabel.

Não satisfeita com isso, a Ilha conseguiu a “proeza” de ser a única escola em 2012 que não escolheu o samba que a comunidade queria (e fez isso pelo segundo ano consecutivo). O samba vencedor era o único da final que não tinha qualquer apoio relevante, seja da comunidade, seja da diretoria, seja dos segmentos.

[N.do.E.: mas era o samba preferido do Presidente Ney Fillardi. Samba que, aliás, sofreu mudanças em sua melodia]

Assim, ela simplesmente jogou fora pelo menos quatro sambas bons (sambas de Aloísio Vilar, Almir da Ilha, Marquinhos do Banjo e Carlinhos Fuzil) que, por mais que não chegassem ao “Top 10” da sinopse, ainda salvariam a pátria e disputariam vaga na primeira metade do Grupo.

A Ilha escolheu mal demais o samba e, mesmo com a melhor sinopse do ano (em conjunto com a Portela), ela disputa o “título” de pior samba do ano com a Mocidade.

Resultado: samba infinitamente inferior à sinopse. Prova de que sinopse não é sinônimo imediato de bom samba.

5 – Mocidade

Enredo: Eu vou de Mocidade com Samba e Rock in Rio – Por um Mundo Melhor.
Texto: Alexandre Louzada (pelo menos é quem assina)
Carnavalesco: Alexandre Louzada
Nota da Sinopse: 5
Autores do samba-enredo: Jefinho Rodrigues, Jorginho Medeiros, Marquinho Indio, Domingos PS, Moleque Silveira e Gustavo Henrique

Já comentei o desastre que foi a sinopse da Mocidade frente ao tema e indiquei que seria complicadíssima para se fazer um samba bom.

Dito e feito. A Mocidade teve 45 sambas concorrentes, mas podia juntar os 45 que não daria um mísero samba digno. Até compositores gabaritados como Diego Nicolau (campeão de 2012) fizeram sambas sofríveis, muito abaixo do que costumam fazer.

No final, levou aquele que a comunidade queria e era o menos pior, mas ainda sim fecha a raia do Grupo Especial - em uma disputa árdua com a Ilha pela lanterna.

Alias, essa é a única nota de sinopse da qual me arrependi. Hoje daria uma ainda menor: 3,5.

Resultado: samba do nível da sinopse, ambos muito ruins. Influência negativa clara da sinopse.

6 – Portela

Enredo: Madureira... Onde Meu Coração se Deixou Levar
Texto: Carlos Monte e Paulo Menezes
Carnavalesco: Paulo Menezes
Nota da Sinopse: 10
Autores do samba-enredo: Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento e André do Posto 7

Dessa safra posso falar com bastante propriedade. Pude acompanhar a disputa de samba-enredo desde sua primeira eliminatória até a final. Em um momento inicial, disse que a safra era sofrível com apenas um samba espetacular - justamente o que se sagraria vencedor.

Porém, tenho que admitir que o desenrolar da disputa me fez mudar de idéia. Não quanto ao samba sensacional, que continuo achando sensacional (mesmo com as mudanças horripilantes e insensíveis feitas em sua letra e melodia após o fim da disputa), mas quanto à qualidade da safra.

Hoje classifico mais dois sambas como dignos de irem à avenida se não fosse a obra-prima que o quarteto vencedor aprontou mais uma vez. Além desses, teve mais 2 ou 3 sambas razoáveis na disputa. No que acabou sendo uma safra melhor do que a Portela teve nos últimos anos - e tenho que destacar o papel da sinopse nesse fato.

[N.do.E.: discordo do colunista. A safra da Portela foi bastante fraca e, com boa vontade, além do vencedor somente mais um samba poderia ir para a avenida]

Para a comparação proposta em relação ao samba vencedor, uma excelente sinopse terá um samba a sua altura para representá-la na avenida.

Não coloco o samba acima da sinopse (como se isso ainda fosse possível) por causa das mudanças posteriores (feitas por diretoria e puxador) que pioraram consideravelmente o samba em relação a sua versão concorrente.

Será bastante interessante ver o que ocorrerá com a Portela e o seu sambão vindo logo depois dos dois piores sambas do ano, que virão juntos logo antes de sua entrada na avenida.

Resultado: samba pari passu com a sinopse, ambos em altíssimo nível.

[N.do.E.: infelizmente, as notícias que chegam do barracão da Portela são MUITO preocupantes.]

Até amanhã, com as escolas de segunda feira.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Sabinadas - "Sambas melhores do que os enredos"



Nesta quinta feira, a coluna “Sabinadas”, do jornalista Fred Sabino, faz uma análise dos sambas escolhidos pelas escolas de samba do Grupo Especial para o carnaval 2013.

Eu irei esperar o cd oficial sair para escrever minhas opiniões – até porque não ouvi as versões finais de todos os sambas ainda – mas nos próximos dias teremos dois posts do colunista Rafael Rafic comparando os sambas às suas sinopses.

Aproveito para registrar o meu protesto quanto às desnecessárias mudanças sofridas pelo samba da Portela (acima, a versão definitiva), que continua sensacional mas que, indubitavelmente, teve bastante do seu brilhantismo podado. Passemos ao texto.

Sambas melhores do que os enredos

Como prometi, segue a avaliação dos sambas-enredo para o próximo desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Admito que quando tomei conhecimento dos enredos, fiquei preocupado. Afinal, nos últimos anos vimos o começo de uma recuperação da qualidade dos sambas e temia por um empobrecimento das obras.

Mas, se o número de ótimos sambas ficou reduzido a dois, pelo menos não temos nenhum daqueles sambas horrorosos que tanto infestaram os desfiles nos últimos dez anos.

Os destaques absolutos da safra, mais uma vez, são Portela e Unidos de Vila Isabel. Os sambas das demais escolas variam entre bons e razoáveis. Como curiosidade o fato de Tinga e Wander Pires terem se destacado nas defesas dos sambas vencedores nas eliminatórias - até perdi a conta de quantas vezes eles cantam.

Preferi não dar notas, pois ainda gostaria de ouvir as versões do CD: sempre há modificações. Mas aqui segue a minha ordem de preferência em relação às obras que vão embalar as escolas em 2013.

Lembrando que é puramente uma preferência pessoal de alguém que curte o gênero samba-enredo e respeita imensamente os responsáveis por escrever e dar melodia à maior festa popular deste país.

1) PORTELA - Mais uma vez os compositores Wanderley Monteiro e Luiz Carlos Máximo presentearam os amantes do samba com uma obra envolvente e que não vai morrer na quarta-feira de Cinzas.

O refrão de cabeça, além da ótima sacada "Abre a roda, chegou Madureira", tem um balanço irresistível. A receita do excelente samba de 2012, com algumas repetições curtas de versos, é feita com precisão ao longo da letra, que casa bem com a sinopse e facilita o canto do componente. E as variações melódicas também se mostram envolventes.

Eu prefiro a versão original das eliminatórias que o samba (desnecessariamente a meu ver) alterado e gravado na voz do ótimo cantor Gilsinho. Mas é o melhor samba de 2013. Por fim, torço para que Wanderley e Máximo continuem rompendo com os padrões e liderem um definitivo resgate do gênero samba-enredo enquanto música popular e não uma trilha perecível.

2) UNIDOS DE VILA ISABEL - A superparceria formada por Martinho da Vila, André Diniz e Arlindo Cruz, como se esperava, nadou de braçada nas eliminatórias e produziu um dos melhores sambas da safra.

A letra conta com precisão a proposta do enredo e tem momentos bem inspirados, como os versos "Agradeço a Deus por ver o dia raiar", "A lua se ajeita, enfeita a procissão" e "A Vila vem plantar felicidade no amanhecer". A melodia também é envolvente e gostosa de ouvir.

Resta saber como o samba ficará na gravação e no desfile com o estilo mais aguerrido e "vibrante” de Tinga em relação ao "romântico" de Wander Pires. Em 2010 o samba de Martinho sobre Noel Rosa foi bastante modificado e gostaria que isso não acontecesse.

3) IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE - Fiquei decepcionado com a escolha do samba da tradicional e laureada escola de Ramos.

Calma! Não que o samba vencedor do Me Leva (vencedor recente de dois prêmios Estandarte de Ouro) e seus parceiros seja ruim: muito pelo contrário, melodia e letra são de grande qualidade. Aliás, a interpretação do jovem Thiago Britto na versão das eliminatórias foi extraordinária.

Mas a obra do Zé Katimba, que ficou pelo caminho, era daquelas para serem lembradas por muito tempo. De qualquer forma, como já vem sendo rotina, a GRESIL, que a meu ver tem a melhor ala de compositores da atualidade, terá uma obra muito competente na passarela.

Vamos ver se os problemas de desfile vistos nos últimos anos se repetirão. Tomara que não e a escola de Ramos faça uma apresentação digna de seus grandes momentos.

4) ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA - Confesso que, enquanto mangueirense, fiquei inicialmente preocupado com o samba devido à escolha do enredo sobre Cuiabá.

Mas a obra de Lequinho e seus parceiros me deixou muito mais tranquilo para o desfile (risos). Embora o samba não esteja no nível dos dois anos anteriores, o resultado ficou bem positivo. O refrão de cabeça tem ótima pegada, com a teoricamente óbvia - mas bem-feita - rima entre Jequitibá (remetendo ao clássico samba "Jequitibá") e Cuiabá.

A melodia também mescla essa pegada característica dos sambas mangueirenses com uma letra direta e de momentos inspirados. A Estação Primeira muito bem representada no desfile em samba. Tomara que o acabamento das alegorias, ponto fraco dos últimos desfiles, melhore com a verba generosa do governo local.

5) UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR - Numa das eliminatórias mais disputadas do ano, o samba composto pelo Ginho e seus parceiros venceu.

A obra que contará a vida de Vinícius de Moraes é bastante correta e tem bons momentos, mas, como o enredo da agremiação insulana é um dos melhores do ano, esperava um pouquinho mais da letra e da melodia no geral. Mas, com a competência do Ito Melodia e a garra dos componentes, o samba deve crescer e a Ilha (uma escola pela qual tenho grande simpatia e sempre torço para ir bem) tem tudo para fazer um belo desfile.

6) ACADÊMICOS DO GRANDE RIO - O samba do Mingau e cia. também era o melhor das eliminatórias e vai representar bem a escola.

A obra me agradou principalmente na sua segunda parte, com letra e melodia superiores à da primeira. Como curiosidade, o curtíssimo refrão principal lembra a ideia daquele do Império Serrano de 1988  ("Dá cá o meu, dá cá, me dá o meu!/ O povo carioca quer aquilo que perdeu").

O enredo foi outro que não me agradou, pois me pareceu panfletário demais. Mas vamos ver no desfile, já que a Grande Rio tem uma bela estrutura de carnaval e faz desfiles sólidos.

[N.do.E.: o samba a meu ver tem um problema sério que não é dele, vem da sinopse: os erros conceituais na definição de royalties.]

7) BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS - É um samba no padrão Beija-Flor.

Ou seja, bem feito de letra, com boa melodia (na versão da eliminatória, vale exaltar, muito bem cantado por Tinga e Luizinho Andanças), mas que não causa lá uma grande emoção, até porque o enredo, para meu gosto, não combina com samba.

A não ser que Neguinho esteja num dia muito inspirado e a escola faça uma apresentação de impacto, o que nos últimos anos não aconteceu mesmo no desfile sobre Roberto Carlos, é um samba que vai render boas notas, mas não sei se vai cair no gosto popular.

Posso estar errado, claro, até porque não se pode duvidar de nada vindo da gigante Beija-Flor.

8) INOCENTES DE BELFORD ROXO - Depois da polêmica vitória no Acesso em 2012, a escola da Baixada chega ao Grupo Especial com um samba do Billy e parceiros, vencedores numa disputa com nada menos do que o campeoníssimo Cláudio Russo.

E a obra ficou muito interessante, com uma melodia agradável e letra correta sobre a Coreia do Sul. A escola tem a ingrata missão de abrir o desfile, vamos ver se o samba consegue funcionar com todo mundo ainda frio. Mas foi uma boa escolha e quero ver como vai ficar na voz do excelente cantor Wantuir no CD.

9) UNIDOS DA TIJUCA - O enredo sobre a Alemanha rendeu um samba que descreve bem o enredo, mas sem o impacto que se deseja para uma escola campeã.

Sinceramente, se eu fosse desfilante teria certa dificuldade para memorizar a letra. Na versão das eliminatórias, o Wander Pires deu aquela caprichada nas reverberações. Vamos ver como o samba vai se adaptar na voz do Bruno Ribas, que, costumam dizer por aí, tem um estilo parecido.

Mas esperava mais da Tijuca, tomara que o samba não se arraste no desfile.

10) ACADÊMICOS DO SALGUEIRO - Como vem sendo rotina no Salgueiro, é uma obra "pra cima".

Só que, ao contrário dos últimos quatro anos, quando os sambas funcionaram muitíssimo bem (a ponto de renderem um título em 2009, vices em 2008 e 2012 e um potencial título em 2011), é uma obra que não me agradou tanto, apesar de o refrão principal ser daqueles "grudentos" e de fácil canto.

É que realmente prefiro sambas mais clássicos, sem versos como "se vacilar, cair na rede, vão criticar, o que é que tem?", "tá na capa da revista", "se você quer saber, espera" e "vida de celebridade é um vai e vem".

De qualquer forma, o samba até que supera o enredo sobre fama e o Salgueiro, capitaneado pelo excepcional carnavalesco Renato Lage, obviamente vai fazer um desfile para brigar em cima apesar da péssima posição de desfile. Vamos ver como o samba e a escola se comportam.

11) MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL - É uma análise parecida com a do Salgueiro.

Embora abaixo de obras anteriores da agremiação, o samba do Jefinho e seus parceiros era o melhor das eliminatórias e se mostra um tanto melhor que o enredo sobre o Rock in Rio.

Isso, apesar de também ter versos como "a minha popstar chegou rasgando o céu" e "na apoteose e nova edição, overdose de emoção". A cabeça do samba e o refrão central são elogiáveis, mas será que o rock vai dar samba?

12) SÃO CLEMENTE - Mais uma vez a escola da Zona Sul aposta num samba leve e de letra simples para contar a história das novelas.

Samba, aliás, oriundo de uma junção, que ficou aceitável. Confesso que o enredo não me agrada, mas pelo menos ficou uma obra irreverente com a cara da São Clemente. Porém, tecnicamente fica devendo aos outros sambas da safra.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Resenha Literária - "Cadernos de Samba"


Quarta feira passada estive no lançamento da série "Cadernos de Samba", série de pequenos livros que visam a resgatar a memória do carnaval carioca e especialmente das nossas escolas de samba. Coordenada pelo jornalista Aydano André Motta, os livros buscam registrar uma história que, muitas vezes, acaba se perdendo com a morte dos sambistas mais antigos das agremiações.

Os três primeiros livros são "Tantas Páginas Belas", sobre a Portela, do historiador Luiz Antonio Simas; "Maravilhosa e Soberana", do já citado Aydano, sobre a Beija Flor, e finalizando "Marcadas para Viver", do jornalista João Pimentel. Este último conta a saga de cinco escolas pequenas: Unidos de Lucas, Em Cima da Hora, Vizinha Faladeira (onde já desfilei, em 2008), Unidos do Jacarezinho e a extinta Tupy de Braz de Pina.

O lançamento, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, contou com a presença de jornalistas, formadores de opinião do carnaval e representantes das escolas enfocadas. A se lamentar a ausência da Portela, representada de forma não oficial apenas por três integrantes do site PortelaWeb - entre os quais este blogueiro, por Mestre Monarco, pelo autor do samba de 2013 Luiz Carlos Máximo e pelo sócio Marcos Vieira de Souza, conhecido pelo apelido de "Falcon" - e que é esposo da porta bandeira da Beija Flor Selminha Sorriso.

Para o leitor ter uma ideia, somente a Beija Flor trouxe três ônibus com componentes para prestigiar o lançamento. Outro exemplo é que eu tive a oportunidade de conversar com o Presidente da Unidos de Lucas, também representado de forma oficial.

Os livros (na foto, da esquerda para a direita, Simas, Pimentel e Aydano) tem formato pouco maior que uma edição de bolso e tem cada um deles cerca de 120 páginas. Escritos em uma linguagem acessível, são lidos rapidamente - eu levei cerca de duas horas para completar a leitura no último sábado.

A noite também contou com a presença do Prefeito Eduardo Paes - que chegou depois que eu havia saído - e teve cobertura televisiva e de sites especializados. Inclusive em uma das matérias, que pode ser vista no Youtube, Luiz Antonio Simas chega a afirmar que sem a Portela o desfile tal como conhecemos talvez não existisse desta forma.

Faço abaixo uma pequena resenha de cada um deles, pela ordem de leitura.

Tantas Páginas Belas

Simas optou por contar a história da águia altaneira a partir da formação do subúrbio de Oswaldo Cruz, base da escola. Ao contrário de outras agremiações a Portela é uma "escola de planície", ou seja, não está baseada em nenhum morro.

São mostradas as circunstâncias de formação da agremiação, os bons tempos de Natal - que ganha uma espécie de mini perfil bastante interessante, as grandes crises e o momento de renascimento da escola trazido pelas feijoadas da Velha Guarda e outras iniciativas semelhantes.

Este blogueiro e o Ouro de Tolo são citados como referência bibliográfica, em especial a coluna "Samba de Terça" que escrevi sobre o desastroso desfile de 2005. É um fato que muito me honra.

O site PortelaWeb, do qual faço parte da equipe, também foi uma fonte de pesquisa valiosa. É um belo exemplar àqueles que pretendem conhecer um pouco da bela história da minha escola.

Maravilhosa e Soberana

Aydano André Motta - que, devo avisar aos leitores, é fanático torcedor da escola de Nilópolis, a ponto de achar que o título de 2003 foi justo (risos) - optou por uma leitura mista: ao mesmo tempo em que mostra a história da agremiação (que eu mesmo não conhecia), também conta um pouco do "modo Beija Flor de desfilar", que é quase religioso, messiânico.

Alternando passado e presente, tradição e modernidade, Aydano ajuda a desnudar este fenômeno representado pela sua comunidade e sua devoção à escola, a seu patrono e seus comandantes. O modelo de carnaval representado pela azul e branca, confesso, não me agrada totalmente, mas tem de ser respeitado. É um misto de "despotismo esclarecido" com paixão genuína de seus integrantes, que resultou em uma receita muito vitoriosa.

O autor também conta histórias como as de Laíla, Joãozinho Trinta, Anísio Abraão David e o carnavalesco Milton Cunha, entre outros. Pelo menos para mim, que conheço pouco o que ocorre na escola fora dos 82 minutos de avenida, se mostrou um valioso documento - aprendi bastante, e, somado ao que vi no lançamento, passei a admirar a organização e a força da agremiação.

Apesar de ser um livro escrito por um apaixonado, há ligeiras críticas ao adesismo político da Beija Flor - que tem dois a meu ver inacreditáveis enredos defendendo o Regime Militar nos Anos 70 e, recentemente, homenageou o Governo Lula. Aydano também demonstra preocupação com a sucessão na escola.


Marcadas para Viver

Contar a história de cinco pequenas agremiações deu um certo trabalho de pesquisa ao autor João Pimentel. Os registros escritos são muito tênues e os detentores da história oral nem sempre se encontravam disponíveis.

A história de cada uma das agremiações é contada de forma a entender o porquê de não terem se firmado no grupo das grandes, bem como resgatar sambas como "Os Sertões", da Em Cima da Hora, "Sublime Pergaminho", de Lucas (ambos enfocados na série "Samba de Terça" deste blog) e "Seca do Nordeste", da Tupy de Braz de Pina - acima em versão com Clara Nunes.

Algo que impressiona nas histórias contadas é a relação com a questão da violência. Lucas, Tupy, Vizinha Faladeira e o Jacarezinho foram muito afetados por esta questão em algum momento.

Também se contam versões conflitantes da escolha de "Os Sertões", para mim o maior samba de enredo da história do carnaval carioca.

O livro tem alguns equívocos de datas: a Vizinha desfilou com o enredo sobre Gilberto Gil em 2004 e não 2005, quando foi rebaixada - inclusive fui finalista de samba daquele ano. E a homenagem de Lucas a Elisete Cardoso foi em 1974, não 75.

Mas é documento indispensável para aqueles que pensam que as escolas de samba se resumem ao "mundo encantado da Sapucaí".

Em resumo, os três livros valem bastante a pena. Recomendo.


Cine Debate PortelaWeb

Acabei não conseguindo escrever o post na semana passada, mas quero registrar aqui a iniciativa do Centro Cultural Cartola e do site PortelaWeb de trazer alguns dos principais personagens do desfile de 95 para relembrar a preparação do mesmo e falar um pouco sobre o carnaval atual.

Diga-se de passagem, o acervo do Centro Cultural sobre o carnaval (que eu não conhecia) e sobre o grande gênio Cartola são dignas de aplausos, com itens representativos.

O vídeo acima, com cerca de nove minutos, fala sobre a bateria de 95 - e a então inédita "paradinha" na Portela - e sobre o trabalho do mestre sala Jerônimo, que aliás deu ótimas declarações durante o debate.

Ótima iniciativa.

Promoção

Pensa que acabou, leitor?

O Ouro de Tolo tem três exemplares autografados dos livros para sortear: um de cada. Para participar baixa deixar na área de comentários deste post nome completo, cidade, e-mail, escola de samba pela qual torce e indicar qual dos livros gostaria de ganhar.

Publicarei o resultado na próxima segunda feira, dia 12. Participe!

domingo, 4 de novembro de 2012

Orun Ayé - "Dez anos do tri - e mais algumas finais"


Neste domingo em que completo 38 anos de idade - com muito pouco a celebrar, diga-se - a coluna "Orun Ayé", do compositor Aloisio Villar, conta algumas saborosas histórias de disputas de samba.

O colunista se esqueceu, mas na próxima sexta feira disputaremos a final da Acadêmicos do Dendê, do hoje Grupo C. Será minha sexta final na agremiação.

Dez anos do tri - e mais algumas finais

Neste domingo é a final de samba-enredo no Boi da Ilha e eu estou na disputa. Quem me acompanha sabe que o Boi da Ilha é o meu berço. Estou na escola desde 1997, quando peguei a sinopse do enredo “Círio de Nazaré” para o carnaval de 98. Lá cheguei à minha primeira final no mesmo ano e ganhei meu primeiro samba em 2000 - para o carnaval 2001. 

Já fiz coluna sobre a vitória de 2001 e o bicampeonato de 2002. Aproveitando esse dia de final, onde busco a sexta vitória na agremiação, falarei sobre nosso polêmico tricampeonato conquistado em outubro de 2002: portanto, completando dez anos.

Ganhamos o samba do carnaval 2002 e o Boi fez um grande desfile debaixo de chuva, com todas as dificuldades que uma escola de samba pequena passa. Pela primeira vez um samba meu foi transmitido pela televisão - a CNT mostrou o grupo de acesso naquele ano - e pela primeira vez o Boi competiu com a União da Ilha, perdendo por pouco apesar de ter desfilado melhor.

Foi com essa grande confiança que o Boi partiu para o carnaval 2003. Tinha uma grande equipe de carnaval, formada pelo Mestre Jonas que ganhou o S@mba-Net de melhor bateria, o Roger Linhares como cantor, uma comunidade participativa, que gostava da escola.

Mas foi perdendo tudo isso ao longo do ano.

Perdeu o Jonas para a Inocentes da Baixada, o Roger Linhares teve proposta do Império da Casa Verde (estreante no Grupo Especial de São Paulo) e optou por lá. Grandes perdas que vieram acompanhadas de dois grandes erros.

O primeiro foi tirar seus ensaios da quadra da Freguesia. O Boi sempre teve aquela quadra como sua casa, como o local da sua comunidade. Agora que perdeu essa quadra em definitivo vem sofrendo muito com essa perda de identidade, e o segundo erro o enredo escolhido.

O presidente Eloy teve a oportunidade de contratar o carnavalesco Paulo Barros, mas não quis gastar dinheiro. Preferiu o já falecido carnavalesco Cláudio de Jesus e ele que já trabalhava no carnaval de Cabo Frio fez um enredo sobre a cidade.

Cláudio não tinha experiência como carnavalesco e fez uma sinopse comum, caindo no lugar comum das coisas da cidade - não dando oportunidade de criar como fizemos no enredo sobre Holambra, onde colocamos as flores em primeiro lugar.

Nesse ano tivemos uma aventura na Portela, com o samba sendo cortado rapidamente. Isso acabou ajudando na confecção do samba do Boi, já que pegamos algumas partes dele pra usar. Mantivemos a parceria do ano anterior e o mesmo time de palco. O samba era assim:

Compositores: Aloisio Villar, Paulo Travassos, Roger Linhares, Cadinho e Mestre Arerê

A vinda do descobridor
Deu vida a imaginação
Homem branco navega
Em busca de colonização
Encontra o dono da terra
Índio é forte, é valente
Vai a luta, entra em guerra
Sobre a área conquistada
Agricultura é plantada
O sal é fonte desse chão

Joga rede no mar pescador
Agradeça o alimento ao criador
Vou mergulhar nessa magia
Nesse balanço vou até raiar o dia

O Sol, as praias lindas, a brisa no ar
No cais meu bem eu vou te namorar
Curtir a paisagem
Esporte é vida, lazer e saúde
Fonte da juventude
É noite no paraíso tropical
O rei momo alegra a Cabofolia
Vou brincar meu carnaval

Em quinhentos anos de glórias
Cabo Frio conta e canta sua história
Vamos brincar, vamos brindar, pode aplaudir
A minha escola hoje na Sapucaí

Começamos forte essa disputa, com toda pinta de tricampeonato, mas aos poucos começou um burburinho sobre o samba da parceria que veio de Cabo Frio disputar. Algumas pessoas disseram que a ajuda do município estava condicionada à vitória desse samba, outras que o carnavalesco estava ‘fechado’ com eles.

O samba tinha partes boas, mas era ingênuo em outras e sua vitória seria uma temeridade. Apesar de achar esse nosso samba abaixo dos dois vitoriosos de antes, tinha consciência que o nosso era o melhor e assim como toda a parceria me preocupava com essas histórias.

Nosso forte palco composto por Roger Linhares, Nando Pessoa e Cadinho foi reforçado por Flávio Martins. Era o melhor disparado da disputa, mas mesmo com o melhor samba e melhor palco chegou uma hora que o samba não rendia mais o que rendia no começo. Muito devido ao disse me disse.

Na semana da final surgiu a história de junção.

Eu nunca passara por uma junção de samba e nem sabia como era a montagem de uma. Na véspera da final estava na aula da pós graduação e meu telefone não parava, com os parceiros ligando e tentando pensar numa alternativa de ganharmos o samba. Chegamos a pensar na possibilidade do Roger vir de São Paulo ao Rio cantar o samba do Boi na avenida, para ver se assim sensibilizava o Eloy, mas era inviável. 

Fomos para a final de samba sem saber o que ocorreria, e cada parceria teria que se apresentar duas vezes. Nossa primeira apresentação, apesar da torcida imensa, foi ruim. A tensão aumentava. Minha mãe sentiu, perguntava o que ocorria e eu desconversava. No intervalo das apresentações vieram nos contar que a parceria de Cabo Frio venceria sozinha.

Reunimo-nos do lado de fora do clube do Cocotá, onde eram realizadas as eliminatórias, para decidir o que se faria. Ficamos revoltados com a história de derrota, de perder por um samba inferior por motivos que ninguém sabia ao certo quais; decidimos mostrar na segunda apresentação qual era o samba.

Maior parte da nossa torcida já tinha ido embora, mas fizemos uma senhora apresentação. Não só a melhor apresentação nossa naquele ano, mas pra mim junto com a apresentação final do Boi em 1998, de estréia do Roger em nosso samba do Boi no carnaval de 2001, final no Dendê em 2008 e nossa semifinal na Ilha ano passado, as nossas maiores apresentações em samba até hoje.

A diretoria toda se reuniu e ficou perfilada para ver aquela apresentação de garra, raivosa e se existia alguma dúvida sobre resultado acabou ali.

Pouco depois o resultado foi anunciado e eles realmente venceram, mas foi junção. Era o nosso tricampeonato, que deixou não só minha mãe aborrecida como muita gente furiosa na escola, inclusive meu amigo Anderson Baltar que não se conformava de não vencermos sozinhos e um tempo depois largou a escola. Foi polêmico, fez mal ao Boi, mas estávamos com a alma lavada: eles não levaram sozinhos.

O Eloy anunciou que só durante a semana as pessoas conheceriam o samba do Boi e assim todos foram embora nesse anticlímax. Graças a essa decisão errada o Boi não saboreou uma das maiores vitórias de sua história.

A final da União da Ilha era na mesma noite e a quadra da Ilha ficou vazia até que a final, lotada, do Boi acabasse. Só com o fim do Boi a quadra da Ilha começou a encher com as pessoas que estavam em nossa final e os comentários na Ilha eram todos sobre a polêmica no Boi.

Durante a semana Roger, Cadinho e Djalma Falcão botaram melodia numa letra pré-estabelecida pelo Eloy, que eu tentei mudar de todas as formas. Alegava que estava errada, primeira de samba enorme com segunda que terminava abruptamente e curta, palavras e frases repetidas, mas não adiantou. Eloy era turrão e não me ouviu.

O samba ficou assim:

Compositores: Aloisio Villar, Paulo Travassos, Roger Linhares, Cadinho da Ilha, Mestre Arerê, Valfredo, Jorginho Batuqueiro, Patinho, Miguel, Jacaré e Wellinton

A vinda do descobridor
Deu vida a imaginação
Homem branco navega
Em busca de colonização
Encontra o dono da terra
Índio é forte, é valente
Vai a luta, entra em guerra
Fui Santa Helena, fui
Senhora D`Assunção
Portugueses e franceses
Na batalha pelo chão
O Forte São Matheus surgiu
Na agricultura produtos mil
A construção naval
E a indústria da pesca e sal

Joga rede no mar pescador
Agradeça o alimento ao criador
Vou mergulhar nessa magia
Quinhentos anos é um mar de alegria

O Sol, em seu nascente, a brisa no ar
No cais meu bem vamos namorar
Curtir a paisagem
Esporte é vida, lazer e saúde
Fonte da juventude

Lindas praias, dunas brancas
Cabo Frio é beleza sem igual
O rei momo vem brincar Cabofolia
É carnaval

Essa junção com toda certeza foi o maior erro da história do Boi da Ilha.

Cadinho da Ilha assumiu o carro de som da escola e chamou Flávio Martins e Gilson Bacana a fim de dividir os microfones com ele. A escola fez um péssimo desfile, não aproveitando o viés de alta que estava com Orun Aye e Holambra e de forma merecida foi rebaixada para o Grupo B - não retornando mais ao grupo A.

Alguns anos depois descobrimos que a junção foi política. O presidente Eloy contava com uma ajuda de Cabo Frio - que acabou não ocorrendo.

Uma pena, mas de uma forma dolorosa o Boi aprendeu que samba e política não devem se misturar.

Pelo menos não deveriam.

E por falar em finais...

Nessa fase de finais de samba lembrei-me de duas grandes histórias que ocorreram, vistas por mim, e soube de uma ótima que quero dividir com vocês.

A primeira ocorreu na final do Boi para o carnaval de 1999: o enredo era “A saga de Kananciuê na aurora do mundo Carajás” que contava a criação do mundo através da lenda Carajás.

Foi escolhido um bom samba, o de Carlinhos Fuzil, Marquinhus do Banjo, Mauricio 100, Grilo e Alvinho. Um samba que marcou a escola, meu primeiro desfile na vida, mas que rendeu polêmica na escolha.

O presidente Eloy não quis dar o resultado, passou o microfone ao locutor. Este anunciou - e uma grande confusão se formou.

Muita gente não aceitava o resultado e um carro da polícia parou na frente do Boi. Um dos compositores derrotados saiu da quadra, deu de cara com os policiais e disse: “Podem entrar, os ladrões estão em cima do palco", fazendo referência aos dirigentes da escola.

Essa história rende risadas no Boi da Ilha até hoje.

A próxima ocorreu com a gente, fomos as vítimas.

Na final de 2005, enredo “As águas de Oxalá”, estávamos crentes que venceríamos. O presidente Eloy passou por um cantor e disse “vou foder o Cadinho”.

Cadinho era o cantor da escola e meu parceiro de samba. Eloy fez o discurso tradicional de resultado, passou o microfone a ele e disse: “canta o samba do Ginho”.

Ginho, que ganhou o samba da Ilha pra 2013, ganhara com Professor e Nelsinho a disputa. Cadinho, atônito, se viu obrigado a cantar o samba enquanto eu saía furioso da quadra. Cadinho cantava no palco e Eloy atrás dava banana pra ele e falava rindo “Fodi o negão”.

E o samba tirou quatro notas dez na avenida, em um grande desfile. É... fodeu mesmo.

[N.do.E.: talvez por ética o colunista não tenha feito a referência, mas a “cabeça” deste samba do Boi da Ilha de 2005 tem a melodia idêntica ao início do samba da Portela de 1994. Aliás este samba portelense será reeditado em 2013 pela União do Parque Curicica, da Série Ouro]

O compositor Gugu das Candongas, quatro vezes campeão na Ilha e meu parceiro hoje no Boi, recebeu uma missão de um Pai de Santo.

Ele deveria matar um sapo e colocar a letra do maior rival costurada em sua boca na horta da escola. Gugu ficou com pena e comprou um sapo de borracha, como era amigo dos compositores rivais colocou outra letra na boca do sapo.

Na mesma final, seu parceiro Pardal recebeu a missão de arrumar um galo preto, amarrar em sua pata fitas com as letras dos sambas e soltar na porta da escola. Ele comprou o galo e na saída da Ilha o galo se soltou dentro do carro - voando sobre sua cabeça e fazendo cocô. Pardal, assustado, abriu a janela e jogou o galo fora.

Preciso nem dizer que perderam o samba, né?

Ah essas finais de samba maravilhosas... Que hoje seja contada mais uma, inesquecível e de preferência com final feliz.

Pedro Migão

Hoje é aniversário do meu grande amigo, parceiro e dono dessa bagaça Pedro Migão. Migão, muita paz, saúde e felicidade pra você que é um cara fantástico, de bem e merece só coisas felizes.

Que Deus te dê forças pra mudar o que é preciso e sabedoria pra aceitar o que não dá e principalmente, que te dê alegria porque ela é que nos move.

E deixe de ser tão mala em jogos do Flamengo (risos), abraços. Orun Ayé!