Mostrando postagens com marcador Televisão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Televisão. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A Série Ouro, a Globo e a transmissão televisiva


Iria escrever sobre as eleições que se aproximam, a incrível coincidência do julgamento de José Dirceu e José Genoíno ser na sexta feira antes das eleições e a demonstração de força dada pelo chefão da Globo Ali Kamel neste caso do Mansalão, mas irei deixar para lá. Esta semana ainda teremos uma outra "Bissexta" sobre a eleição de vereadores.

O tema de hoje será um anúncio feito pela mesma emissora ao final da semana passada: de que ela mesma irá transmitir o Grupo de Acesso do Rio de Janeiro. Como escrevi anteriormente, para 2013 os Acessos A e B foram fundidos em um único grupo, com 19 escolas, que desfilará sexta e sábado de carnaval.

Nos três últimos anos a emissora carioca comprou os direitos do Acesso A (que desfilava somente sábado) e repassou a outras emissoras: a Band nos dois primeiros anos e o SBT em 2012. O Acesso B, que desfilava terça (na foto, a homenagem da Tradição ao cartunista e escritor Ziraldo, ocorrida em 2012) não tinha transmissão comercial - apenas registros da própria entidade que coordenava o desfile e de organizações como o Sambanet.

A emissora comprou os direitos naquela ocasião a fim de afastar a possibilidade de ter a Record transmitindo estes eventos, conforme negociação que chegou a ser entabulada.

A decisão da Globo tem a ver com alguns fenômenos. O primeiro, o de aprofundar a estratégia de regionalizar a cobertura do carnaval já adotada em cidades como Porto Alegre, que mostra o desfile local e não o de São Paulo. 

Segundo, a boa audiência dada pelo SBT em 2012, com um sólido segundo lugar geral. Terceiro, a meu ver, o pouco interesse despertado pelo desfile de São Paulo no público carioca. 

Vale lembrar que o desfile, a princípio, terá transmissão apenas para o Estado do Rio de Janeiro.

Por outro lado, ter o desfile na Globo é algo positivo para as agremiações, ainda mais aquelas que pertenciam ao antigo Grupo B - que não tinha televisionamento. O aumento da exposição televisiva torna mais fácil o trabalho de marketing das escolas, ainda mais se estando na emissora líder de audiência. Além disso há um efeito indutor na procura por fantasias devido à maior divulgação antes do desfile.

Também deve se considerar que as escolas da Série Ouro terão o mesmo tratamento dispensado ao Grupo Especial no pré-carnaval. Eventos como a final do samba e os ensaios técnicos passarão a ser noticiados pela emissora, entre outros. Isso é bastante interessante às escolas.

Um ponto que deve ser observado é que o horário do início do desfile deverá ser alterado a fim de atender à grade da Globo. A previsão é de que o desfile se inicie às 22 horas, de acordo com fontes ligadas à entidade que coordena este grupo. Com isto, a primeira escola a desfilar nos dois dias (Unidos do Jacarezinho sexta e União de Jacarepaguá sábado), em tese, seria transmitida em vt ao final de cada noite.

O lado negativo é que, a princípio, o grupo perde a transmissão em rede nacional. O ideal a meu ver seria que houvesse algum tipo de transmissão em tv fechada, mais ou menos como é feito nas partidas de futebol - ainda que em PPV.

Aliás, em minha opinião e na de boa parte dos especialistas em carnaval - entre os quais não me incluo, sou apenas um aficcionado - a transmissão dos desfiles de carnaval tem muito o que melhorar.

Coordenada pela área de shows da emissora e não pelo jornalismo, a cobertura prima pelo tom acrítico. Tudo é divino, tudo é maravilhoso, os comentaristas não fazem quaisquer tipos de críticas a escola nenhuma - ainda quando é uma verdadeira "bomba" o que está passando - e há uma preferência por mostrar celebridades em detrimento de quem faz o carnaval.

Sem contar que a Globo coloca pessoas no alto do Setor 10, com as letras nas mãos e microfones de captação, para que cantem os sambas e dêem ao espectador um "clima de avenida". Obviamente, algo artificial - ou seja, a reação do público presente na Passarela do Samba mostrada na transmissão fica claramente distorcida, e isso não é positivo.

Em 2012 ainda melhorou um pouco, pois toda a escola foi mostrada. Em 2010, por exemplo, a Portela teve apenas quatro dos sete setores com imagens, entre outras.

Na prática fica muito difícil se fazer uma avaliação de resultado apenas com as imagens da tv. Isso fica muito claro quando se percebe que o desfile da Mangueira de 2012, por exemplo, foi um para quem estava na avenida e outro na televisão: os evidentes problemas, em especial de harmonia, não ficaram claros.

Momentos importantes como o "esquenta" das escolas e o grito de guerra quase nunca são mostrados. Sobre este aspecto, já ouvi "em off" de mais de uma fonte da emissora que a Globo gostaria de mostrar este momento, mas fica receosa de haver alusões a mandatários de agremiações com notórias fichas corridas. É algo que nunca será validado oficialmente, mas faço o registro.

Isso sem contar que a parte jornalística da cobertura é muito reduzida. A questão se complica ainda mais quando se sabe que os sites que cobrem as escolas o ano todo, por determinação da Liesa, não podem circular pela Sapucaí - ficam restritos às áreas de armação das escolas. Esta é uma anomalia evidente a meu ver.

Outro problema evidente é o monopólio de imagens. Isso dá à emissora um poder bastante nítido, pois o diretor de imagens é que determina qual "versão" da agremiação o telespectador verá. Sabemos que a estrutura para a transmissão é bastante custosa, mas acharia viável uma transmissão em tv fechada, mais voltada ao público que se interessa pelas escolas - com comentaristas mais afeitos ao meio. Ou um terceiro canal apenas com o áudio ambiente da Sapucaí.

Vale lembrar que a emissora possui alguns slots de pay per view do futebol não utilizados nestes dias de folia, o que poderia ensejar, até, algo nesta estrutura: um canal pago à parte que funcionasse antes dos desfiles reprisando carnavais antigos, mostrasse os dois Acessos e o desfile do Grupo Especial sob um ângulo mais técnico.

O ideal seria a cessão das imagens à Tv Brasil, mas sabemos que tal fato não acontecerá dentro da lógica que envolve o carnaval carioca atualmente. Também sabemos que de acordo com especialistas do setor a Globo paga aproximadamente 40% da verba total das escolas do Especial - não sabemos como será na Série Ouro - o que obviamente lhe dá um poder discricionário bastante forte.

Em minha opinião, a transmissão dos desfiles como um todo tem bastante o que melhorar, mas ainda assim penso que é uma boa notícia esta passagem da Série Ouro à transmissão global. O aumento da exposição das escolas compensará com folga os evidentes problemas que a estrutura de televisionamento e seu direcionamento tem.

Finalizando, minha percepção é de que a a promoção e a exploração do produto poderiam ser melhores. Os clipes com os sambas do Especial não mostram sequer um terço dos mesmos e o programa com a gravação dos clipes na íntegra foi ao ar a uma da manhã de um domingo para segunda feira em 2012. O programa "Esquenta", que vai ao ar nos domingos antes do carnaval, é um programa de samba sem sambistas.

O modelo adotado pelas escolas de samba atualmente possui muitos problemas, mas a televisão, a meu ver, é um dos menores. A transmissão é boa? Não para o público que gosta de samba. Pode melhorar? Bastante e elenquei alguns motivos e sugestões aqui.

Mas é um caso típico do "ruim com, pior sem". E o televisionamento do Acesso pela Globo tem mais vantagens que problemas, em especial para as agremiações.

Voltarei ao tema.

P.S. - Semana passada circulou a informação de que a Record poderia comprar os direitos dos grupos de Acesso que desfilam na Intendente Magalhães. Pessoalmente não acredito, mas, a se concretizar, seria excelente para estes grupos que praticamente não tem atenção da mídia.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Vidas Sem Lar


Como havia comentado aqui na semana passada, tive um final de semana bastante atribulado, com idas ao hospital e outras pendências para resolver. Tanto que sequer consegui atualizar o blog ontem, no que peço desculpas aos leitores.

Entretanto, consegui ver o documentário “Vidas Sem Lar”, apresentado no último programa “Domingo Espetacular” da Rede Record. Com pouco menos de 29 minutos, o programa foi editado e dirigido pelo jornalista Marco Aurélio Mello, que comanda o ótimo blog “DoLaDoDeLá”.

É o segundo documentário apresentado neste formato: o primeiro foi sobre a vida do médico Marcelo Clemente e a Cracolândia paulista, que já foi alvo de post aqui.

A ideia era mostrar a condição de oito milhões de pessoas que não tem moradia e a luta cotidiana por tal condição, focalizando especialmente os movimentos paulistas de ocupação de imóveis abandonados no Centro de São Paulo e as dificuldades enfrentadas.

São Paulo possui uma série de imóveis abandonados em seu centro, que vem sendo alvo dos movimentos de sem teto. Normalmente são imóveis que possuem dívidas de IPTU e cuja lei determina que estas instalações podem ser desapropriados pelo governo a fim de atender à “função social da propriedade”.

Entretanto, não é isso que ocorre. A luta pela moradia destes movimentos tem de ser diária, pois normalmente o que ocorre é a reintegração de posse determinada pelos proprietários e imediatamente executada pela Polícia – sempre com muita violência. Há interesse claro dos governos municipal e estadual no sentido de expulsar os moradores pobres destes espaços e “desterrá-los”.

O documentário também mostra as precárias condições de moradia nas favelas, sem infraestrutura e sofrendo de uma estranha epidemia de incêndios: toda semana comunidades se incendeiam na capital paulista.

As histórias de vida apresentadas possuem algumas características em comum: é gente pobre, sem condição de pagar um aluguel por ganhar pouco e que busca a regularização da moradia com o consequente pagamento por isso.

Isto é algo que precisa ser deixado claro: ninguém quer nada ‘de mão beijada’. Todos os entrevistados apresentados são unânimes em afirmar que desejam a regularização das condições de moradia, com pagamento mensal.

O programa é bastante feliz em mostrar como a ausência de um endereço fixo e moradias como cortiços tira a dignidade das pessoas. Além das dificuldades normais e extensas, há dificuldade em uma condição destas de se conseguir emprego, por exemplo. Há muito preconceito.

A luta é por um programa de regularização destes prédios desocupados, sua transformação em moradias populares e a construção de uma estrutura mínima. Utiliza-se o conceito de “função social da propriedade”, que está em clara oposição ao entendimento da Justiça de que o direito dos donos deve ser defendido de qualquer forma e a qualquer custo.

Entretanto lembro ao leitor que o conceito de função social da propriedade é previsto em nossa legislação e que pelo menos no caso paulistano praticamente todos os espaços abandonados e ocupados possuem dívidas tributárias – ou seja, podem ser desapropriados.

Neste contexto, todavia, fica clara a disposição ideológica do governo de São Paulo de se posicionar ao lado dos proprietários. O Secretário de Habitação do Estado de São Paulo, Sílvio Torres – integrante da “bancada da CBF” enquanto deputado federal – é um dos entrevistados e afirmou retoricamente que há interesse do estado em uma política de habitação que contemple estes extratos mais desfavorecidos.

O documentário deixa claro a meu ver que isso é retórica pura por parte do secretário. Demagogia.

Lembremos que o Brasil ficou aproximadamente 30 anos sem uma política habitacional estruturada, retomada apenas recentemente com o Programa “Minha Casa, Minha Vida” do Governo Federal. Há um déficit de moradias e a valorização expressiva dos imóveis ocorrida nos últimos anos dificulta sobremaneira as aspirações destes extratos de menor renda.

Isso tem outra conseqüência: muitas vezes os terrenos destes imóveis abandonados no centro de São Paulo e os ocupados pelas favelas são cobiçados para novos empreendimentos voltados à classe média ou a prédios comerciais. Não me parece coincidência a relação entre os incêndios que citei no início deste post e esta atratividade de terrenos – ainda mais com o metro quadrado em alta.

Retornando aos dramas pessoais mostrados no programa, me impressionou a organização das ocupações: há um código rígido de conduta e organização comunitária a fim de melhorar a precária estrutura e tornar menos insalubre a condição. Contrastando com o drama dos cortiços, fica claro que não se tratam de “vagabundos” ou “aproveitadores”. São pessoas honestas, trabalhadoras e que buscam, apenas, um local para morar.

Local para morar que sempre sofre a ameaça das reintegrações de posse, sempre com bastante truculência. É algo que permeia o documentário e a situação em si: para o Estado, a Polícia é a solução deste problema. Pobre bom é pobre espancado – e longe, de preferência.

Não esgoto aqui os temas tratados, mas me parece claro que o conceito de função social da propriedade precisa estar à mesa dos formuladores de políticas públicas. São oito milhões de pessoas que querem apenas um teto. Querem apenas um local digno para repousar no final de uma jornada de trabalho.

Disponibilizo no alto do post a íntegra do vídeo para os leitores.

Aproveito para parabenizar a equipe e a emissora de televisão pela matéria, mostrando um lado do Brasil que muitos telespectadores interessados na gravidez da esposa de apresentadores ou na briga entre dois cantores sertanejos (apenas para citar temas do próprio Domingo Espetacular) não conhecem, ou fingem não conhecer.

Finalizo com um comentário “off topic”: me chamou a atenção no documentário uma jovem entrevistada com aparelho dentário, algo que não se deveria esperar neste tipo de comunidade devido ao custo.

Conversando com o próprio editor Marco Aurélio Mello, após a exibição do programa, descobri que o Governo Federal possui um programa denominado “Brasil Sorridente”, de cuidados com a saúde bucal e que fornece, também, aparelhos e outros tipos de próteses atendendo a certas condições. Confesso que não sabia da existência deste programa.

A propósito, este é um bom exemplo de como a comunicação deste governo precisa melhorar. Mas este é tema para um outro post.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Bissexta: "Avenida Brasil - A incomparável emoção de torcer"


Nesta quarta feira, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, fala do mais novo fenômeno na televisão brasileira: a novela “Avenida Brasil”.

Avenida Brasil - A incomparável emoção de torcer

Nos círculos que eu frequento (ou melhor, nos que eu valorizo), pega muito mal gostar de novela. Novela é associada a um tipo de cultura muito precária, para paladares intelectuais de baixa exigência – a novela representaria, no universo cultural, o mesmo que o Big Mac representa no ramo da gastronomia. Tanto assim que a última novela que eu acompanhei de verdade foi Vale Tudo, que foi ao ar em 1988 - eu ainda estava na faculdade.

Vi a estreia de Avenida Brasil.

Meu projeto era ver apenas a estreia e ainda assim por uma razão muito particular, que me tocava o coração: o protagonista da novela interpretava um jogador do Flamengo, que faria um gol decisivo em uma final contra um time cheio de referências ao Vasco.

Percebi, de cara, que havia algo de diferente naquela novela: as cenas eram filmadas como em película, assim como nos filmes. E o primeiro capítulo tinha um ritmo frenético, com muita coisa relevante acontecendo. Mas foi só, deixei a novela de lado...

O que sempre me incomodou em novelas é que muda o cenário, mudam os atores, mas não muda a história. Tem um núcleo de milionários, que vivem uma vida de sonhos. Tem um vilão muito mal, que a todos maltrata, em especial a algum personagem muito sofredor. A novela fica um ano no ar, com o malvado praticando todas as malvadezas e a vítima indefesa vai se redimir na última hora. Em paralelo, um monte de histórias inúteis, para encher linguiça.

Percebi que alguma coisa de diferente estava acontecendo em Avenida Brasil quando duas das pessoas mais noveleiras que conheço estavam se queixando da novela. Dei asas para a desconfiança e passei a acompanhar.

Pois olhem: como se diz hoje em dia, ‘garrei amor’ pela novela.

Creio que deva ser a novela com o menor número de personagens. Isso concentra a ação naquilo que realmente importa, que é o embate entre Adriana Esteves e Débora Falabella (essa, a meu ver, um tom abaixo do desempenho espetacular da primeira). Claro que há umas escorregadelas nonsense e desagradáveis, como um bobalhão cercado de três mulheres estúpidas, mas dá para relevar [N.do.E.: não dá para chamar de estúpida a Camila Morgado (risos)].

A melhor surpresa é que não há o insuportável núcleo dos milionários. Todos os ricos desta trama têm origem no subúrbio e tirando o tal bobalhão que vendeu uma empresa para uns espanhóis, ainda moram lá mesmo.

Tufão, o ex-jogador que é o mais rico de todos, tem o mesmo jeitão simples de suburbano: não tem helicóptero, não viaja para a Europa, não tem o típico comportamento de novo rico. Isso gera uma identificação imediata em todos nós: é possível ascender socialmente, seja jogando bola, seja montando uns salões de beleza, sem perder a essência que nos moldou.

E não há propriamente mocinhos ou vilões.

A briga de Carminha x Nina/Rita é uma disputa de muita malícia, com cada uma delas carregando seu fardo de sofrimento e sua cota de maldades. É impossível assistir aquilo e não se envolver. Eu, a cada noite, enquanto lancho, torço para Nina como se fosse possível intervir nos destinos da história.

Só não esqueço de vez essa chatice de Mensalão exatamente porque Carminha está para mim assim como José Dirceu estava para Roberto Jeffferson, ou seja, mexendo com meus instintos mais primitivos.

Impressiona também o grau de verossimilhança do enredo.

Em geral, novelas se pautam por combinar situações absurdas, para conectar núcleos de milionários ao núcleo dos pobres de forma forçada. Desse mal ficamos livres, os personagens se unem de modo natural. Além disso, os suburbanos não são estereotipados: são pessoas de carne e osso, gente como se vê na vida real cotidianamente.

Em resumo, é impossível ficar indiferente à Avenida Brasil.

Uma diversão de muita qualidade, em ritmo acelerado, atores inspirados e cenografia de primeira. Só torço para que acabe logo, para que eu possa me libertar do hábito tão logo as novelas voltem ao seu curso normal, ou seja, um monte de personagens apatetados, plastificados e irreais. Avenida Brasil, com seu sopro de modernidade, é, certamente, uma bela exceção em um gênero que já deu o que tinha que dar.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Olímpicas


Eis que começaram os Jogos Olímpicos, finalmente, na última semana.

Como não estou de férias, não estou podendo acompanhar ao vivo muitas competições. Apesar do sensacional aplicativo do site Terra para Android, que quebra um galho razoável – a qualidade de vídeo é muito boa – não dá para ficar pendurado em horário de trabalho assistindo às competições pelo celular: no máximo uma “paquerada” rapidíssima ou outra, e ainda assim tenho de sair da minha baia para tal.

Por outro lado, no último final de semana estava fora do Rio de Janeiro e não tinha televisão a cabo. Assisti a alguma coisa pela Record e dentro das limitações de uma TV aberta achei bastante satisfatório o trabalho.

Vale lembrar que especialmente durante a semana, o horário diurno tem um público majoritariamente feminino, que não necessariamente está interessado em assistir aos Jogos Olímpicos o tempo todo. Por isso que a meu juízo faz sentido focar a transmissão nos esportes coletivos onde o Brasil está presente e em individuais como a ginástica artística, que tendem a chamar mais a atenção deste público majoritário.

Não pense o leitor que a Globo faria muito diferente se tivesse os direitos de transmissão. Seria bastante parecido. Aliás, a se lamentar o quase boicote da emissora à competição, dentro do espírito de que “se eu não transmito, não existe” disseminado por ela. Este é um bom exemplo do que afirmei aqui algumas vezes, de que o jornalístico está subordinado ao comercial.

O papel de transmitir os jogos em sua totalidade cabe aos canais a cabo especializados, e dentro de minha amostra SporTv, ESPN e Band Sports estão fazendo sua tarefa a contento.

Obviamente com erros e imprecisões aqui e ali, mas lembrem-se os leitores que a metade dos esportes olímpicos, pelo menos, não é transmitida com regularidade fora do momento olímpico. Que eu me lembre de cabeça, esgrima, tiro com arco, pentatlo moderno, taekwondo, levantamento de peso, hóquei sobre a grama, badminton, canoagem, luta olímpica, tênis de mesa, tiro e vela somente são transmitidos nas Olimpíadas. Outros esportes como o ciclismo e o handebol tem acompanhamento restrito.

Com isso, ainda que aqui e ali se tenham convidados especialmente para estes esportes no evento, imprecisões e erros são perfeitamente esperados, por mais que se pesquise. E ainda temos de levar em conta que o mesmo narrador muitas vezes acaba de transmitir a competição de esgrima e passa sem intervalo para o concurso completo de equitação. Haja jogo de cintura...

As gafes acabam acontecendo. Pelo menos do que vi e soube nada supera o apresentador do SporTv que chamou o tiro com arco de “tiro com arco e flecha” e disse que o atleta havia dado “trezentas flechadas” no dia de competição preliminar.

Também, como comentei no Twitter, nem tudo é glamour. Que o diga o narrador do SporTv Guto Nejaim, que transmitiu ontem a pelada de vôlei feminino entre os (belos, por sinal) times da Grã Bretanha e da Argélia (foto), a qual acompanhei os dois últimos sets.

O time local não tem a menor tradição no esporte e o time africano vem de um centro de menor desenvolvimento. Resultado: uma partida que pelo nível técnico poderia perfeitamente estar sendo disputada como final de um campeonato colegial pelo Brasil afora. Para os leitores terem uma idéia, no decorrer do tie break que deu a vitória às européias o técnico da seleção argelina durante um dos tempos pedidos ensina a uma das atletas o modo certo de efetuar uma manchete. Isso é básico no esporte...

Quanto ao desempenho brasileiro, no momento em que escrevo parece estar dentro dos prognósticos. Algumas decepções no judô, compensadas por duas medalhas que não estavam como favas contadas, mas no resto as coisas estão indo mais ou menos na linha esperada antes do início das competições.

Me chamou a atenção o péssimo jogo feito agora há pouco pela seleção brasileira de basquete masculina, contra os donos da casa – que tem uma seleção pouco mais que um “catadão” daqueles de pelada de rua. Vi o último quarto e apesar de nossa vitória foi ruim demais.

Vale lembrar que o investimento no esporte brasileiro aumentou significativamente no último ciclo olímpico, mas como é algo de maturação mais longa somente se devem sentir os efeitos em sua plenitude nos jogos que disputaremos em casa. Outra questão é o investimento na prática de base, que melhorou, entretanto precisa evoluir muito mais.

Do pouco que tenho visto e lido outro fator que me chamou a atenção foral alguns erros gritantes das arbitragens como um todo. A meu ver está na hora de se aumentar o uso da tecnologia como auxiliar do julgamento dos esportes.

Também vale mencionar alguns resultados bastante estranhos conseguidos pela China na natação até o momento. Nadadores estão surgindo do nada para ganhar medalhas.

Bom, as impressões inicias são essas. Mas este blog voltará ao tema.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Gravação do "Loucos por Futebol" na Espn


Como os leitores estão cansados de saber, na semana passada gravei o programa "Loucos por Futebol", da Espn Brasil. Como prometido - e como fiz no post sobre a visita que fiz ao SporTv - irei contar um pouco do que ocorre por trás das câmeras.

Na segunda feira retrasada, dia 07, ao abrir meu e-mail pessoal fui surpreendido com um e-mail da produtora Camila Peixoto me convidando para participar do programa, que teria como tema principal o centenário do futebol do Flamengo, que se completa em 2012. Meio ressabiado (confesso) respondi e aí soube como funcionaria: ficaria na mesa junto com os participantes fixos, para isso tendo de ir a São Paulo, onde ficam os estúdios.

Consegui a necessária liberação no trabalho - e como já fiz no programa, agradeço ao pessoal da Petrobras - e a produção do programa me mandou as passagens para ir e voltar, bem como me disponibilizou um motorista para me buscar no aeroporto e me levar para o retorno posteriormente. A gravação do programa foi na quinta feira, dia 10.

Antes da gravação trocamos alguns e-mails para que eu pudesse entender não somente a dinâmica do programa como o que falaria. Destas trocas de e-mails surgiram ideias como falar da história do urubu e a coincidência do programa ir ao ar na véspera do Dia das Mães e na data exata do aniversário da minha.


O leitor deve ter se perguntado como chegaram ao meu nome, certo?

Foi através de um post deste Ouro de Tolo republicado no prestigiado blog do jornalista Luis Nassif (acredito que tenha sido o referente à nacionaliação da petroleira argentina YPF) que levou o editor Augusto Alves a este blog e a partir daí houve o convite.

A pedido da produção selecionei algumas camisas e materiais do meu acervo e coloquei em uma mochila. Havia a preocupação de minha parte em não despachar bagagem porque estava com os horários bastante apertados - precisava retornar ao Rio ainda na quinta - e não poderia me dar ao luxo de chegar uma hora antes nos aeroportos.

Sobre aeroportos, uma nota: eu jamais havia descido em Congonhas, porque normalmente quando vou a São Paulo embarco e desembarco por Guarulhos. Leitor: pousar de dia em Congonhas é um verdadeiro filme de terror. Você vê os prédios passando pertinho da janela e não há a menor margem de manobra - e a pista é muito curta.

O curioso é que acabei passando por quatro aeroportos neste dia, pois fui do Santos Dumont para Congonhas e retornei de Guarulhos (que está parecendo uma rodoviária, a propósito) para o Galeão.


Ao desembarcar o motorista Miguel já me aguardava para o trajeto até a sede da Espn, que fica no bairro do Sumaré. Ótimo papo, o motorista me contou algumas histórias de visitas ilustres (o que não era meu caso, claro) que ele havia transportado.

Cheguei por volta de 13:45 na redação, que ocupa o prédio utilizado anteriormente pela antiga Tv Tupi. A gravação estava programada para as 15 horas, e contaria com o apresentador Marcelo Duarte e os jornalistas Celso Unzelte (os dois comigo na foto acima) e o mítico Paulo Vinícius Coelho (abaixo), mais conhecido pelas iniciais de seu nome: PVC.

A redação - que pode ser vista nas duas primeiras fotos - tem tamanho equivalente a do SporTv que havia visitado anteriormente, com um número de jornalistas parecido. Fiquei com a impressão de que o clima era mais informal e menos, digamos, "controlado". Se fosse comparar diria que o SporTv é mais "futebol alemão" e a Espn "futebol brasileiro". Estilos diferentes - não significa que um seja melhor que o outro.

Desde o início havia a preocupação de me deixar à vontade. Toda a equipe me tratou com bastante deferência (mais até que eu merecesse) e mostrando que eu não estava ali em sensação de inferioridade: era um deles. Logicamente eu era um convidado do canal, e isso pesa. Duarte brincou muito comigo por conta do post que escrevi aqui sobre o Reading, da Inglaterra.


Conversamos um pouco, acertamos alguns detalhes e fomos a uma sala onde é feita uma pequena maquiagem e havia um lanche à minha espera antes da gravação - que optei por deixar para depois. A profissional passa um produto no rosto para diminuir o brilho e, depois, uma espécie de creme para fazer desaparecer olheiras e rugas de expressão. Leitores, eu duvidava da eficácia deste tipo de produto, mas realmente funciona: como podem ver nas fotos, me remoçou uns dez anos.

Eu havia levado duas camisas do Flamengo para utilizar na gravação: uma rubro negra e outra azul (esta de goleiro), ambas do modelo atual. Os editores me deixaram à vontade para utilizar a que eu quisesse, mas houve uma ponderação de que, com o cenário com vários elementos rubro-negros, utilizar a de goleiro destacaria mais - o que determinou a minha opção. Olhando as imagens depois acho que acertei.

Fomos para o cenário, que é um estúdio razoavelmente grande e com menos utilização de recursos tecnológicos, em especial de efeitos de luz e câmeras. O processo é mais artesanal, no sentido que que a parte técnica depende mais do manejo humano. O cenário também é composto por livros, bonequinhos, murais de fotos, algumas quinquilharias e a geladeira onde se guardou a "Farofa Boiadeiro" (que, a propósito, está na minha despensa) e onde PVC mostrou o time de botão com o São Paulo de 1957. A propósito, ela não gela, embora existissem dentro dela latinhas (creio que de cerveja, mas não garanto) temáticas do Grêmio e do Inter de Porto Alegre como decoração.

Aproveitei todo o tempo que pude para conversar, ouvir e aprender - inclusive com algumas dicas bastante valiosas do PVC sobre o balanço do Palmeiras e que servem como alertas para a análise do balanço rubro negro.


Antes do início da gravação há uma série de ajustes e há meio que um "esquenta", com alguns testes e conversas em parte gravadas - e que por si só dariam um outro programa. O "Loucos por Futebol" é mais descontraído que outros de esportes, mas é (quase) tudo combinado: minhas intervenções já estavam acertadas antes mesmo da gravação, obviamente não as palavras mas os assuntos que eu iria abordar e os momentos.

Isso se faz necessário porque é um programa de tempo cronometrado (54 minutos, incluídas as matérias) e pela característica dos assuntos se estenderem demais, as intervenções isto acaba gerando um trabalho muito grande na edição. Na prática, a únicas improvisações que fiz foram a referência ao Estadual do Rio de 2002, o comentário sobre a Alemanha e a resposta sobre como conseguia as camisas que mostrei no programa. Até o agradecimento à Petrobras e as brincadeiras com o meu sobrenome estavam previamente acertadas.

A gravação começou por volta de 15:20 e eu estava bastante tenso, especialmente no primeiro bloco. Nunca havia aparecido na televisão antes e também estava procupado em olhar para a câmera certa, embora vendo depois percebi que bastava olhar para quem estava com a palavra quando não estava falando.

No intervalo para o segundo bloco o Unzelte disse que eu estava indo bem e a partir daí dei uma relaxada para os blocos restantes.


Os intervalos são um show à parte. Os VTs das matérias são mostrados para a gente, e vamos conversando enquanto isso, com brincadeiras e trocas de informações. Tanto que a informação sobre o local onde o João Máximo havia gravado a crônica sobre Dino Sani foi dada por mim ao apresentador Marcelo Duarte enquanto o mesmo era transmitido na gravação.

Vale mencionar que PVC e Unzelte passaram bom tempo debatendo se o jogador Sarará era o segundo ou o terceiro reserva do São Paulo de 1957 abordado no programa. Isso foi resolvido com uma consulta ao Google feita em seu celular por Unzelte no intervalo.

Aliás, os caras são verdadeiras enciclopédias. PVC é uma espécie de "Google" futebolístico: se perguntar a escalação do Flamengo de 1928 ele sabe de cabeça. Fera.

Engraçadíssimo foi o momento em que Unzelte canta os hinos dos times aniversariantes. A gente ria horrores enquanto os hinos eram literalmente "executados" pelo jornalista. Obviamente, a letra dos hinos estava na bancada, ou seja, ele lia. A infame sigla do Esporte Clube Uruguaiana (ECU) também foi alvo de muitas gargalhadas nos bastidores. O clima é informal e descontraído o tempo todo.


Em um dos intervalos eu troquei camisas que estavam no varal com outras que estavam na bancada a meu lado a fim de poder mostrá-las. Também bebi água e trocamos idéias sobre o que seria feito no bloco seguinte, além de falar de assuntos como a Seleção brasileira, por exemplo.

Ao final ainda gravamos a vinheta que apareceria como "chamada" do programa, mas esta tive de repetir a pedido da editora. Pelo que percebi na edição do programa foi tudo praticamente na íntegra - no meu caso, apenas uma titubeada que dei quando falo do livro da Charanga Rubro Negra foi cortada. Duarte teve de repetir a escalada inicial devido a um equívoco bobo: ele falou "Clube de Regatas Flamengo" quando o correto é "Clube de Regatas do Flamengo" - mas aí se vê o cuidado da produção.

Achei que tinha sido apenas razoável a minha participação, apesar dos comentários em contrário dos jornalistas e da equipe. Na verdade a gente não tem muita noção na hora, ainda mais quando se é a primeira vez em que se aparece na frente das câmeras. Olhando depois e com o feedback de quem assistiu achei muito bom.

Lanchamos após a gravação e ainda conversei mais um pouco com a equipe, deixando acertadas entrevistas para este Ouro de Tolo com PVC e com Marcelo Duarte. Na verdade poderia até ter ficado um pouco mais, mas estava com o horário bastante apertado - meu vôo era era às 19:45 em Guarulhos. Mas até que o trânsito, embora pesado, estava razoável, e cheguei a Cumbica ainda a tempo de beber um chope antes do embarque - que foi complicado: tivemos de entrar no ônibus e depois esperar dentro do avião quase 25 minutos para a autorização da decolagem.


Posso dizer que fiquei muito feliz com o convite e gostei do resultado. Cada vez mais vejo que minha vocação era o jornalismo, mas agora "Inês é morta"... No momento em que escrevo o vídeo do programa ainda não estava disponível no Youtube.

Termino agradecendo ao editores Augusto Alves e Karen Barbosa e especialmente à produtora Camila Peixoto, pela oportunidade e pelo apoio.

Espero ter outras oportunidades de poder estar na tv, pois confesso que gostei bastante da experiência. Já havia em duas ocasiões dado entrevistas a rádios e jornais, mas à frente das câmeras jamais.

Mas valeu demais.


(Da esquerda para a direita: Augusto (que é Flamengo), eu, Camila e Karen)

domingo, 29 de abril de 2012

Orun Ayé - "O Livro do Boni"


Neste domingo a coluna "Orun Ayé", do compositor Aloisio Villar, traz resenha de livro que também li recentemente e que por absoluta falta de tempo acabei não escrevendo sobre: a biografia de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. A meu ver é um documentário indispensável para se entender não somente a história da televisão brasileira, mas também a da publicidade e do rádio.

Apesar de cair bastante em seu terço final - e a história de sua saída da Globo é contada de maneira bastante superficial - é leitura obrigatória para aqueles que se interessam pela televisão brasileira e em especial pela Rede Globo de Televisão. Também possui o mérito histórico de pela primeira vez haver a admissão por parte de alguém interno de que a emissora ajudou Fernando Collor não somente no célebre debate do segundo turno como na campanha em si do candidato.

Vamos ao post. O livro pode ser comprado neste link.

O Livro do Boni

Estou escrevendo essa coluna com certa antecedência por estar viajando. Então, se aconteceu alguma “bomba” na última semana não tive como colocar na coluna, nem mesmo se o mundo acabou deu tempo de relatar. Mas prometo que se for um dos sobreviventes do Armaggedon eu escrevo sobre ele semana que vem. [N.do.E.: o Armaggedon não houve, mas espero que o colunista tenha sobrevivido aos rodízios de massa e frango do bairro curitibano de Santa Felicidade...]

Essa é uma coluna encomendada pelo Migão, mas que eu também já pensava em escrever. É sobre um personagem muito interessante não somente da televisão como do Brasil.

Escrevo hoje sobre José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Entretanto escrevo também sobre como podemos passar a gostar de alguns personagens depois que conhecemos a fundo suas histórias e principalmente que o livro de nossas vidas somos nós que escrevemos - e a qualidade dele depende única e exclusivamente da gente.

Que eu me lembre rapidamente ocorreu duas vezes comigo de conhecer mais a história de alguém e virar fã.

A primeira quando vi o documentário feito pelo “casseta” Claudio Manuel chamado “Ninguém sabe o duro que dei” sobre a vida do cantor Wilson Simonal. Não era fã do Simonal, não conhecia a fundo sua vida, só sabia aquilo que todo mundo falava, que era dedo duro e foi afastado da vida artística por isso. Até hoje não sei se o Simonal foi ou não dedo duro, tendo a acreditar nele pelos relatos, mas virei fã do artista que era impressionante. Sua empostação de voz, seu domínio de público, a beleza que dava às canções com sua voz. Um monstro, um mito e hoje sou muito fã dele.

Assim como sabia pouco do Boni, só que ele foi um cara “grandão” na Globo, mas não sabia nem como ele chegara lá.

Seu livro foi lançado ano passado com grande estardalhaço e como eu sempre gostei de biografias fiquei curioso em ler. Namorei por um tempo com o livro quando passeava em shoppings e passava em livrarias, mas achava caro para meu bolso e deixava passar. O curioso é que o livro foi a primeira coisa que comprei depois que recebi o dinheiro pelos direitos do samba da União da Ilha do carnaval 2012, foi sem querer. Não foi intencional que fosse a primeira coisa e só me toquei agora. Vai ver era essa enorme vontade de ler.

Não me arrependi.

O livro tem um pouco mais de 450 páginas e conta toda sua vida desde o seu nascimento em Osasco, cidade de São Paulo até os dias de hoje como diretor e sócio da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo que atende parte do interior paulista.

Boni é o resultado de uma soma que é fundamental para o sucesso de qualquer ser humano em qualquer área: talento com a força de vontade. O talento o brasileiro já tinha visto, mas a força de vontade foi contada nesse livro, quando desde os quinze anos de idade ele corria atrás das pessoas que trabalhavam em rádios, tvs ou área de publicidade para aprender, observar e poder assim abrir seu caminho.

Com quinze anos no Rio conseguiu virar estagiário de Dias Gomes na Rádio Clube do Brasil e pouco tempo depois estava em São Paulo trabalhando com Manoel de Nóbrega na filial da Rádio Nacional na capital. Rodou por diversar rádios, televisões, foi diretor da gravadora RGE - sendo um dos que lançaram a cantora Maysa - e trabalhou na publicidade sendo o letrista do famoso jingle da Varig e da expressão “Varig, varig, varig..”.

Pegou experiência de tal forma que com trinta anos de idade já era disputado por emissoras de televisão e parou na TV Globo, canal 4 do Rio de Janeiro. Até então uma emissora nova, bancada pela Time Life por um tempo e passando um momento de dificuldades financeiras. É preciso nem dizer no que a Globo se transformou depois de sua chegada e como ele entregou a emissora em 1998. A Globo com ele deixou de ser uma tv local e virou uma rede. Não só uma rede como a quarta maior rede de televisão do mundo.

Podemos ter todas as reclamações em relação a Globo, ideologicamente, a forma como nasceu ou que cresceu, mas de sua qualidade não podemos falar e foi o Boni que implantou essa qualidade. Ele contratou os profissionais que alavancaram a emissora, teve as principais ideias e as menores, mas importantes também. Explicando o que disse acima, de sua cabeça e da cabeça de seu grupo saíram ideias como transformar a Globo em rede, de uma pessoa no Rio ou em São Paulo ver a mesma coisa, ao mesmo tempo em que alguém no Sul ou no Norte.

Desse grupo que ele comandava também saíram o Jornal Nacional, o Fantástico e de sua cabeça saiu coisa que não parece importante, mas hoje é fundamental para quem vê um filme que é no começo de cada bloco botar o nome do filme, em que parte está e colocar o “plim plim” para separar o filme do intervalo comercial.

As séries brasileiras como “Carga Pesada”, “Malu Mulher”, a faixa para música e entretenimento como “Globo de Ouro”, “Cassino do Chacrinha” e amor ao carnaval: no livro ele mostra o amor que tem pelas escolas de samba e explica histórias como a Globo não ter transmitido o desfile de 1984.

Acho que a diferença do gênio para a pessoa comum é que o gênio pensa um segundo antes. O gênio é aquele que tem a atitude que nós falamos “claro, por que não pensamos nisso antes?”. O Gênio é o que faz a diferença. Boni fez. Na televisão realmente foi um dos gênios, um dos desbravadores que fizeram a televisão brasileira ter a qualidade que tem hoje.

Tornei-me fã dele porque gosto de gente assim, gosto de vencedores. Dizem que no Brasil sucesso é ofensa, que brasileiro não gosta de quem vence, eu não sou assim: eu gosto até porque esse tipo de gente que vence por seu esforço e talento sempre tem algo para nos ensinar. Por isso gosto do Boni, do Simonal, do Chico Buarque, do Lula, de Muhamad Ali... Gosto de gente que vai à luta e derrota o destino, que mostra que pode ser maior do que aquilo que a vida apresenta.

Não dizem que somos nós que fazemos nosso caminho? Porque não então um asfaltado, com árvores e flores em volta e que nos leve a um bom lugar?

Não é só em novela que precisa ser assim. Semana que vem tem mais... plim, plim. Orun Ayé!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Bissexta - "A televisão aberta, as novelas e a Globo"


Nesta segunda feira mais uma edição da coluna "Bissexta", do advogado Walter Monteiro. Hoje o colunista faz algumas digressões sobre a televisão aberta, das quais discordo em parte - algumas destas discordâncias expressei em artigo sobre as novelas ainda dos primórdios do blog, que pode ser lido aqui.

Destarte, me incomoda muito a linha que a emissora adotou em seus jornalismos político e econômico, claramente a serviço de políticos e ideólogos conservadores e reacionários, quase fascistas. Mas este é papo para depois. Passemos ao artigo.

A televisão aberta, as novelas e a Globo

O debate sobre a programação detv é semelhante a um que participei por e-mail semanas atrás, quando do início do Big Brother. Este é um programa de que gosto muito, porque é uma obra ficcional com traços de realidade, com enredo em aberto e personagens ainda em construção.

A programação da TV, no mundo inteiro, é de consumo imediato e rasteiro. Programas de auditório, telejornais, transmissões esportivas, filmes já lançados, programas de calouros, seriados/novelas e, de uns dez anos para cá, shows de realidade. Você pode estar nos Estados Unidos, na França, no Brasil ou no México que o cardápio não varia muito - TV aberta é uma espécie de Mc Donald's da indústria cultural, não há espaço (e nem deve haver) para grandes aprofundamentos.

Todo mundo aqui vai ao Mc Donald's de vez em quando, não é? TV aberta é isso, você assiste quando não há nada melhor para fazer.

Sob essa perspectiva, a Globo, quando comparada aos seus concorrentes nacionais e seus referenciais internacionais, entrega um produto de alta qualidade - diria altíssima!

Além do aspecto político, que eu já comentei, o que incomoda as pessoas que não gostam da Globo não é culpa dela, mas sim de um hábito tatuado na alma brasileira: a paixão por novelas. Em nenhum outro país (talvez no México) esse produto é consumido por tanta gente, inclusive gente culta e instruída. Isso é surpreendente. O equivalente das novelas brasileiras, nos EUA e na Europa, são os seriados, mais curtos, mais espaçados, com mais diversidade de enredo e personagem.

A paixão do brasileiro por novelas é algo surreal. Como pode o mesmo enredo, a mesma estrutura, contada por mais de um ano, seis vezes por semana, para um final previsível, seduzir e cativar a elite brasileira? Mesmo nos outros países em que se consome novelas (e não são muitos), o produto é voltado para uma faixa muito específica de telespectadores pouco exigentes e não no horário nobre.

A elite brasileira é muito inculta, mas muito mesmo. Choca o nosso monoglotismo, nosso despreparo, nosso descuido cultural. Então a gente consome novela, se apaixona por elas, interage com elas, mesmo sendo uma espécie de loop sem saída - pois a história nunca muda. O que a Globo faz é simplesmente saciar a sede brasileira por novelas. E, convenhamos, para o que se propõe, o faz com qualidade invejável.

Sob essas perspectivas, as críticas à Globo precisam, sim, ser mitigadas. Até porque, como lembrou uma amiga em outro debate por e-mail, há produtos de elevada sofisticação, embora fora do horário nobre. Eu mesmo tenho um DVD da mini-série Capitu dirigida pelo Luiz Fernando Carvalho, algo revolucionário, inovador e profundamente respeitador com o melhor livro brasileiro. Tão boa que suscitou discussões acaloradas no meio acadêmico sobre a abordagem do episódio da traição da protagonista, que na mini-série é explícita, em contraste com a permanente indagação que permeia o livro.

Nos meus tempos de comunista, a gente se ufanava de gritar a plenos pulmões, "o povo não é bobo, fora Rede Globo", Um dia eles tiveram coragem e lançaram uma campanha publicitária com um slogan que nos humilhava: "o povo não é bobo, prefere a Rede Globo". Em síntese, é isso: quem detesta a Globo acaba detestando as preferências do povo brasileiro. O que, convenhamos, é preconceito puro, bem típico da Casa Grande/Senzala.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A Televisão Vista de Dentro - Visita ao SporTv


Na tarde e noite de ontem tive oportunidade de pela primeira vez ver como é feita a televisão "do lado de dentro", em visita à Globosat, mais especificamente à Redação do canal de esportes SporTv. 

Atendendo a convite do editor chefe do programa "Tá na Área", meu amigo Carlos Eduardo Sá (Cadu no meio do samba, "Sardinha" no meio jornalístico), já entrevistado por este blog, acompanhei por trás das câmeras toda a preparação e a realização do programa de ontem, quarta feira. Foi uma edição longa, de quarenta minutos de duração.


Na chegada ao prédio, que fica na Barra da Tijuca, há uma certa burocracia. Precisa-se ir à portaria, falar com a pessoa que a irá receber, pegar uma autorização para estacionar nas vagas de visitantes, voltar à portaria, fazer o cadastro, tirar uma foto e finalmente pegar o crachá.

Isto posto, comecei a acompanhar o trabalho do Editor Chefe, se iniciando pelas ilhas de edição (acima). Ali são editadas as matérias enviadas pelas sucursais, as preparadas pelas equipes locais e as presentes nos principais clubes e eventos. Também se prepara a coluna da "Lis Futriqueira", que é um dos destaques do programa e cujo personagem foi parcialmente inspirado em uma das pessoas da equipe que prepara o "Tá na Área".

Por exemplo, esta coluna trouxe brincadeiras com o falecimento do cantor Wando, com a "conjuntivite" de araque do jogador Ronaldinho e com o apresentador Lucas Gutierrez - esta feita de surpresa com ele.


Também fui a espaços como a sala de locução dos "offs" dos programas e (acima), o local onde os narradores fazem as transmissões "off tube". Como vêem, é uma sala pequena, com tvs pequenas onde a imagem do evento a ser transmitido chega ali e é feita a narração. Agora entendo o comentário feito pelo amigo e comentarista Lédio Carmona, de que analisar esquemas táticos em transmissões deste tipo "é uma miragem".

O controle de áudio destas transmissões é feito em uma sala anexa.


Estive nos dois estúdios utilizados para os programas da emissora.

No menor (acima), é gravado o Redação SporTv e o Troca de Passes. No maior (abaixo), o SporTv News e o Tá na Área. Este estúdio maior possui uma particularidade interessante: o cenário é feito de "cubos" que são iluminados e ganham assim as cores de cada programa. Mas a calibração das luzes do cenário é algo que demanda certo tempo.


A tarefa do Editor Chefe é especialmente ir controlando o andamento das matérias que darão forma ao programa e coordenar a montagem de um "espelho" onde será colocada a montagem da edição. Este espelho é um programa de computador onde aparecem as matérias na ordem, com tempos de duração e que são mexidas praticamente a todo instante.

Ontem especificamente houve ainda um outro contratempo. O evento que a emissora iria exibir antes do programa teve problemas de recepção de sinal e o programa teve de entrar dez minutos mais cedo, às 18:20. Isso gera uma série de complicações, pois ainda se aguardavam vts de outras praças e o processo de edição e montagem teve de ser acelerado.

Os apresentadores tem também funções na preparação do programa. Vanessa Riche atua como verdadeira repórter atrás de informações, enquanto Lucas Gutierrez prepara as locuções de "offs" - pelo menos foi assim que me pareceu.


Antes do início, uma passada pela redação, que serve a todos os programas do SporTv. O ambiente é bastante dinâmico e o tempo todo se busca o "furo" jornalístico. Inclusive soube de uma "bomba" que irá explodir proximamente no futebol, mas a pedidos não posso revelar.

O entrosamento do editor chefe com a equipe é bem nítido, com brincadeiras a todo momento. Não posso inferir para o restante da emissora, mas pareceu um ambiente legal.


Faltando cinco minutos para o início fomos todos para a sala de controle (acima), contígua ao estúdio, de onde todo o andamento é controlado. Com o "Tá na Área" em andamento ainda se mudam tempos de reportagens, ordens e vão se trocando vts das sucursais.

Há toda uma série de canais de áudio internos onde se pode comunicar com os apresentadores, com as equipes que fariam os jogos subsequentes ao vivo - Brinco de Ouro e Engenhão - e com a retaguarda. O tempo todo as pessoas na sala se falam e vão fazendo ao vivo os ajustes necessários. O pau quebra mesmo - e todo mundo sai abraçado no final.

Cada monitor do painel de controle e nas bancadas de baias possui um determinado tipo de imagem, e uma tv à esquerda mostra a imagem que o telespectador vê. Curiosidade: existe um "delay" de cerca de quatro segundos entre a emissão da imagem/voz - a fala dos apresentadores, por exemplo - e o momento em que se vê a mesma na tela da televisão de casa.


No intervalo (três minutos) ainda deu tempo de tirar uma foto com os apresentadores do programa. Aliás, o curioso é que eles não utilizam roupas pessoais, e sim do figurino do canal - Vanessa Riche, por exemplo, estava com um vestido de cor escura antes de ancorar o "Tá na Área".

Ainda ocorrem imprevistos. A entrada do Paulistão ao vivo teve de ser (na hora) invertida com a do Carioca pois o narrador se atrasou e ainda estava colocando a roupa para entrar no ar diretamente do Brinco de Ouro - a partida seria Guarani e Portuguesa. Aliás, o fone de ouvido é colado nas costas do narrador com fita crepe...

O Editor Chefe funciona como uma espécie de "diretor" do programa, ainda fazendo intervenções pelos canais de áudio em tempo real. Uma delas foi a brincadeira com o comentarista Lédio Carmona, sobre a "Maldição do Zero a Zero": todas as partidas que ele havia comentado até então haviam terminado com este placar. A brincadeira saiu exatamente da mesa de controle e foi pro ar.

Ou as referências a jornalistas, como um apelidado de "Tubarão Branco" pela sua arcada dentária ser bastante destacada na fisionomia - dentes grandes e brancos. E la nave va...

Matérias iam "caindo" e voltando no próprio decorrer do programa. Ao final duas reportagens não foram exibidas e se encerrou com 55 segundos a mais que o tempo total determinado - boa performance de acordo com o Cadu.


Sem dúvida alguma mudou totalmente a minha forma de ver a televisão. Não é um negócio fácil, as informações precisam ser totalmente checadas e o tempo de reação, na maioria das vezes, é mínimo.

O leitor também não pense que existe determinação de privilegiar ou prejudicar time A, B ou C. Este negócio de "ClubePress" é balela. Pense duas vezes antes de cornetar profissionais sérios e que estão ali para satisfazer a sua demanda por notícias, entretenimento e imagens.

Arriscaria-me a dizer que o telespectador não tem a menor noção do que ocorre atrás das câmeras. Está bastante longe de ser um mundo ideal, certinho, onde as coisas chegam prontas e acabadas apenas para serem divulgadas. Para se ter uma idéia, o processo todo leva cerca de cinco horas, para uma edição de 40 minutos no ar.

Para mim, valeu demais. Percebo cada vez mais que minha verdadeira vocação era o Jornalismo - mas agora, com 37 anos e bocas para sustentar, "Inês é morta".


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sobre Monopólios (Atualizado)




Nas últimas semanas, muito se tem falado sobre a chegada do canal de esportes Fox Sports ao Brasil. A emissora, fechada, terá a exclusividade de competições como a Nascar, a Taça Libertadores da América e a Copa Sul Americana. O canal deve estrear no próximo dia 5.

Com uma estratégia agressiva, o canal contratou diversos nomes importantes de outras empresas, tais como os narradores João Guilherme e Marco de Vargas e o repórter Victorino Chermont (ex-SporTv), o comentarista José Ilan (ex-Globoesporte.com) e outros.

Entretanto, o canal, que irá substituir no line-up das fornecedoras de tv a cabo o Speed (na Net, o 97) está tendo sérias dificuldades de acertar os contratos com tais operadoras, em especial a Net. Segundo jornalistas ligados ao setor, devido a pressões da Globosat, dona do canal SporTv e que ainda detém fatia considerável da Net, visando garantir a audiência de seus canais de esporte via introdução de barreiras à entrada.

Isso gerou todo um debate sobre monopólio, o que me leva a republicar, com atualizações, post teórico que escrevi em abril do ano passado. E ele parte da pergunta: por que o monopólio pode ser ruim para o consumidor?

Como diria a teoria que aprendemos nos bancos da faculdade de Economia, existem os monopólios naturais, os estratégicos e aqueles que se dão por alguma posição privilegiada de mercado ou devido a acordos nem sempre legítimos.

Monopólios naturais, como o próprio nome indica, são setores da economia onde existem barreiras à entrada  de novos competidores. Normalmente são setores de investimento intensivo em capital fixo - instalações, capital necessário, depreciação alta - ou em áreas onde não se consegue replicar instalações em duplicidade.

São bons exemplos de monopólios naturais setores como a eletricidade, a telefonia fixa, setores ligados ao petróleo como a rede de oleodutos e gasodutos e, com restrições que não incluem conteúdo, a televisão a cabo. São áreas onde o investimento em capital fixo é muito acentuado e não há razão econômica para se duplicar certos investimentos: por exemplo, não há sentido em duas redes de distribuição paralelas de energia, por exemplo.

Parêntese: um grande erro cometido foi o modelo de privatização adotado no Brasil, onde se vendeu apenas o setor de distribuição - o mais rentável - e se manteve estatal os setores de geração e distribuição - deficitários dada a necessidade maior de capital fixo, manutenção e depreciação. Resultado: não houve investimento nestes setores por quase uma década, porque a distribuição não compensava os outros setores.

Deu no que deu - e o inacreditável estouro de bueiros e bueiros da Light aqui no Rio de Janeiro nos últimos tempos é um exemplo perfeito e acabado do que exponho.

Normalmente este tipo de monopólio está sob controle estatal ou, se estiver com empresa privada, sob forte regulação estatal. Isto se faz necessário para evitar que o interesse privado se sobreponha ao público - até porque a maior parte de serviços públicos básicos estão nesta categoria.

Outro tipo de monopólio são os estratégicos. São setores da economia que se constituem em política de Estado, por envolverem áreas sensíveis ou que impactem relações de poder, distribuição de riquezas e política internacional.

São bons exemplos os setores de petróleo e recursos minerais. No Brasil, nos dois casos temos um modelo misto, com empresas estatais e privadas. No caso do petróleo, embora várias empresas estejam na área do "pós sal", na prática é uma concessão do Estado - o monopólio é deste, que opta por entregar sob certas condições a uma ou mais empresas ou ele mesmo operar diretamente.

Normalmente este tipo de monopólio, por ser estratégico, gera toda uma cadeia de valor dentro do país. O grande problema da Vale do Rio Doce hoje em dia é que ela exporta apenas produtos primários, sem processamento e sem gerar valor agregado. Por outro lado, a empresa compra fora do país praticamente todos os insumos, "exportando" empregos para países como a China e Cingapura.

Por outro lado, a Petrobras, que tem controle predominantemente estatal vem desenvolvendo toda uma cadeia de fornecedores nacional, gerando empregos aqui no Brasil. Exemplos são equipamentos para plataforma e refinarias e especialmente navios petroleiros e plataformas.

O terceiro tipo é o que viemos debatendo na questão do futebol, e em minha opinião é nocivo: é o caso de empresas que detém uma posição dominante no mercado e se utilizam desta posição para estabelecer o que em Economia se chama de "barreiras à entrada" em um determinado setor.

Bons exemplos disso são o mercado de cervejas - onde a Ambev com seus mais de 70% do mercado se constitui em um virtual monopólio - e o já citado caso da entrada da Fox Sports na televisão a cabo. Este é um monopólio nocivo ao consumidor, pois as empresas valem-se de sua posição para apropriar uma renda maior do que seria o lucro econômico esperado.

Na prática, o que ocorre é que se cobram preços extorsivos, ou quase isso, para uma contraprestação que não corresponde ao valor pago. É uma drenagem de recursos do consumidor para a empresa.

Teoricamente, este tipo de monopólio é regulado no Brasil pelo Cade - Conselho Administrativo de Defesa Econômica - que deveria coibir este tipo de monopólio e regulamentar fusões de empresas que tornassem um dado mercado como monopolista. Entretanto, o que se observa na prática é que a atuação do Cade é bastante tímida na defesa da concorrência e do consumidor. Basta ver o recente caso do futebol, ano passado, onde o órgão foi atropelado pelos clubes, a CBF e a Rede Globo de Televisão.

Ou seja, o Cade deveria ser mais atuante em defender o direito do consumidor. Por outro lado, fusões de empresas para enfrentar o mercado globalizado mundial são absolutamente necessárias, a fim de não estarmos nas mãos de grandes empresas estrangeiras - falarei disso em outra oportunidade. Cabe ao órgão estabelecer um equilíbrio entre todos estes fatores, e coibir abusos flagrantes, como este caso da relação entre a televisão e o futebol ou entre a Globosat e a Net.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

História & Outros Assuntos - "Crítica: The Tudors – as quatro temporadas"


Nesta quarta feira, em mais uma edição da coluna "História & Outros Assuntos" o colunista e Mestre em História Fabrício Gomes une História e televisão, analisando a série "The Tudors".

Sem delongas, ao texto.

The Tudors – as quatro temporadas

Finalmente terminei de assistir, em DVD, a última temporada da série “The Tudors”, série baseada na vida de Henrique VIII, monarca inglês que governou a Inglaterra entre 1509 e 1547. 

O soberano casou-se seis vezes e rompeu com a Igreja Católica Apostólica Romana – após o cisma de seu casamento com a rainha Catarina de Aragão, na ocasião em que o Vaticano recusou-se em anular seu casamento com a rainha de origem espanhola, criando uma nova igreja: a Igreja Anglicana – da qual foi designado Chefe Supremo. 

Como consequência, o monarca dissolveu os monastérios espalhados por toda a Inglaterra, sendo certamente aquele que exerceu o poder absoluto com maior autonomia. Muitos creditam a criação da Igreja Anglicana às manobras políticas de Ana Bolena, que era amante do Rei, para que ela se tornasse Rainha.

Fatos como esses são mencionados durante as quatro temporadas da série, que tem um primor de qualidade técnica que beira o barroco. Os bastidores da Corte também são mostrados: intrigas, conjurações, politicagens…

The Tudors descerra a cortina sobre fatos que muitos livros se esquivam de contar, com abordagens feitas com base em muitos estudos e pesquisas de historiadores – vale a pena assistir os Extras do último episódio, com discussões de historiadores ingleses sobre a vida de alguns personagens, bem como os hábitos de adultério, por exemplo.

Henrique VIII (na série, representado pelo excelente Jonathan Rhys Meyers) teve três filhos: Lady Mary (com Catarina de Aragão), Lady Elizabeth (com Ana Bolena) e Principe Eduardo (com Joana Seymour).

O Rei morreu em 28/01/1547, aos 55 anos. Seu filho Eduardo VI o sucedeu no trono, aos nove anos de idade. Porém, veio a falecer aos quinze anos. Henrique VIII gostava de uma Catarina, pois foi casado com três: Catarina de Aragão (primeira esposa), Catarina Howard e Catarina Parr (a última). 

Teve também como esposas Ana Bolena, Joana Seymour (ao que parece, seu grande amor) e Ana de Cleves (cujo casamento não chegou a ser consumado, logo se separando). Eduardo VI, educado questionando os valores católicos, não deixou o trono para a irmã – Lady Mary. 

Com sua morte, Joana Grey – filha do Duque de Suffolk (melhor amigo e conselheiro do Rei Henrique VIII) assumiu o trono por apenas nove dias. Lady Mary era ultra católica e assumiu o trono dando um golpe. Mandou prender e executar Joana Grey. 

Tornou-se a Rainha Maria I. Mas governou por apenas 5 anos. Por ter tentado restabelecer o catolicismo como religião oficial, mandou matar 300 pessoas. Maria I ficou conhecida como “Maria, a sanguinária” (Bloody Mary – que virou nome de bebida).


A série traz também a abordagem da grande disputa religiosa a qual a Inglaterra esteve envolvida, mesmo após a elevação do Anglicanismo como religião oficial. 

Era notório que Lady Mary – primeira mulher na linha de sucessão, filha de Catarina de Aragão, seguisse à risca os hábitos religiosos da mãe (a Espanha era e é, até hoje, um país ultra católico), entrando em conflito com a religião protestante, seguida por Lady Elizabeth. Esta era filha de Ana Bolena, decapitada por traição ao Rei e segunda mulher na linha sucessória. 

Eram tempos de perseguições religiosas e aqueles que eram contrários ao Catolicismo eram considerados hereges e automaticamente condenados à fogueira. Catarina Parr, sexta rainha consorte da Inglaterra, tida como culta e intelectual, era simpática ao protestantismo e por isso enfrentou a ira de Lady Mary.

A série termina com a morte de seu personagem principal e justamente no momento em que configura-se aquela que será a batalha entre duas correntes ideológicas: de um lado o catolicismo de Maria I e de outro o protestantismo de Elizabeth I – que após a saída de Maria I do poder, deu sequência à dinastia, governando a Inglaterra por 44 anos. Os 44 anos em que Elizabeth I – a Rainha Virgem – ocupou o trono inglês ficou conhecida como “A Era Dourada”. Uma monarca protestante.

The Tudors teve a Irlanda (e seus castelos) como locação e foi gravada e exibida entre 2007 e 2010. Vale bastante a pena, em especial àqueles interessados em saber um pouco mais sobre a história da Inglaterra e principalmente dos cismas religiosos e da vida privada da Corte inglesa no Século XVI.

Assista os trailers de cada temporada:

Primeira:



Segunda:




Terceira:





Quarta: